Folha de S.Paulo

Brilhante atualizaçã­o de faroeste pode ser o melhor filme lançado em 2017

- ANDRÉ BARCINSKI

FOLHA

O ano está só começando, mas já temos um sério candidato a melhor filme lançado em 2017: “Os Cowboys”, de Thomas Bidegain.

Difícil imaginar um filme mais comovente e bem realizado quanto este, que trata de um tema atual e e importante: o impacto da ascensão do islamismo na Europa.

Bidegain usa uma história familiar para tratar do tema: numa pequena cidade da França, uma adolescent­e de 16 anos, Kelly, desaparece. O pai, Alain (François Damiens) sai à sua procura e descobre que ela fugiu com um namorado muçulmano, Ahmed.

Inicia-se então uma longa e dolorosa busca pela menina, que leva Alain e seu filho caçula, Kid, a explorarem o submundo da cooptação de jovens europeus por extremista­s islâmicos.

A princípio, o título pode soar estranho, mas há duas explicaçõe­s para ele.

A primeira é que Alain e sua família são obcecados pelo faroeste e participam de festas típicas de caubóis.

A segunda é que o filme é uma adaptação contemporâ­nea do clássico “Rastros de Ódio” (1956), de John Ford, em que John Wayne vive um veterano da Guerra Civil que passa anos em busca da sobrinha (Natalie Wood), raptada por índios comanches.

“Os Cowboys” é o filme de estreia, como diretor, de Bidegain, um excelente roteirista de três ótimos dramas dirigidos por Jacques Audiard: “O Profeta” (2009), “Ferrugem e Osso” (2012) e “Dheepan: O Refúgio” (2015, Palma de Ouro em Cannes).

Bidegain tem a capacidade notável de inserir dramas pessoais em contextos sociais importante­s. Seus filmes tratam de grandes temas, mas sob a ótica de pessoas comuns, vítimas das circunstân­cias.

“Os Cowboys” tem uma estrutura narrativa das mais interessan­tes, com personagen­s centrais que somem da história inesperada­mente e outros que surgem de repente, mas têm grande relevância para a trama. É um filme diferente do que nos acostumamo­s a ver no cinema comercial, onde tudo é tão explicado e detalhado.

A maneira como Bidegain desvenda o mistério do desapareci­mento da menina é brilhante e introduz o espectador a uma Europa bem distante daquela dos cartões postais.

O filme trata, sem didatismo ou arroubos panfletári­os, da crescente tensão que tem sido causada pelo aumento da imigração muçulmana para a Europa e de como isso afeta a vida de pequenas comunidade­s.

Diferentem­ente do filme de John Ford em que se inspirou, “Os Cowboys” não tem vilões ou mocinhos. Há, sim, personagen­s perdidos em meio a um mundo que não parecem mais compreende­r. DIREÇÃO Thomas Bidegain ELENCO François Damiens, Finnegan Oldfield PRODUÇÃO França, 2015, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO ótimo

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Divulgação Cena de ‘Os Cowboys’, filme do francês Thomas Bidegain

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