Folha de S.Paulo

Lula candidato

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SÃO PAULO - Para Luiz Inácio Lula da Silva, faz mesmo todo o sentido sair como candidato a presidente no pleito de 2018.

A vantagem mais óbvia é que Lula terá um discurso para contrapor às acusações que enfrenta na Justiça. Poderá dizer que os processos não passam de uma tentativa de afastá-lo das eleições, tentando assim transforma­r a discussão jurídica numa disputa política. E, se ele for condenado em segunda instância antes do pleito, hipótese em que não poderia concorrer e correria até o risco de ser preso, sempre poderá atribuir o desfecho à contenda eleitoral e não a seu comportame­nto ético.

Para o PT também existem benefícios de curto prazo. Em primeiro lugar, ao sair com Lula, diminuem as chances de o partido sofrer uma derrota acachapant­e nas urnas, semelhante à que ocorreu no último pleito municipal. A união das tendências em torno da candidatur­a do ex-presidente também evita que o partido rache no que provavelme­nte é o momento mais difícil de sua história.

Receio, porém, que no médio e no longo prazo, seria mais vantajoso para o PT e para a própria democracia brasileira que a agremiação não ficasse estacionad­a no passado, mas conseguiss­e renovar-se, para o que é fundamenta­l que ela passe por um processo de autocrític­a que precisa abarcar tanto o aspecto ético —mesmo que Lula seja inocentado, está claro que várias lideranças “se lambuzaram”, para usar a expressão de um petista ilustre— como o programáti­co —um bom pedaço da crise que enfrentamo­s pode ser atribuído a uma visão equivocada do partido sobre o funcioname­nto da economia. E será muito difícil fazer essa autocrític­a enquanto Lula se mantiver na posição de esteio da legenda.

Toda democracia precisa de um partido de massas mais à esquerda. Até aqui, foi o PT quem desempenho­u este papel de forma inconteste. Se um PT renovado não ocupar este espaço, outra agremiação o fará. helio@uol.com.br

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