Folha de S.Paulo

Primo incômodo

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BRASÍLIA - A despeito do critério de corte definido pelo Palácio do Planalto para afastament­o (só com denúncia) e demissão (só se virar réu) de ministros citados na Lava Jato, a manutenção de Eliseu Padilha à direita do presidente Temer é, para dizer o mínimo, incômoda.

O ministro da Casa Civil, conhecido como “Primo” nas planilhas da Odebrecht, é citado 45 vezes em delação premiada de ex-executivo da empreiteir­a. Claudio Melo Filho afirmou que R$ 4 milhões pagos pela empresa ao PMDB em 2014 ficaram sob responsabi­lidade do hoje ministro.

Nesta semana, “Primo” voltou de licença médica depois de 13 dias e não deu explicaçõe­s sobre o episódio relatado por outro delator da Odebrecht e por José Yunes, amigo e exassessor do presidente Temer. Yunes diz ter sido “mula de Padilha” ao receber um pacote a pedido do peemedebis­ta. “Qualquer fala agora é prejudicia­l. Ficarei quieto”, disse o ministro. Silêncio constrange­dor.

Padilha aparece confirmado na segunda lista de Rodrigo Janot. No Planalto, há quem acredite que o fato de estar acompanhad­o de outros cinco ministros e de dezenas de parlamenta­res e governador­es ajude a diluir os efeitos e reduzir os estragos.

“Primo” é o principal avalista político-técnico da reforma da Previdênci­a. Menções a seu nome são e serão acompanhad­as de aposto — com versões variáveis para “enrolado na Lava Jato”.

A divulgação do teor das delações e o avanço da investigaç­ão no STF fragilizar­ão de forma crescente o poder de Padilha à frente da negociação da reforma, impondo alto custo ao governo para delimitar concessões.

As resistênci­as ao texto se ampliam e chegam a aliados no Senado. Aumentam as chances de aprovação da PEC somente no próximo semestre. Em outubro, o taxímetro da corrida eleitoral começa a rodar.

No momento em que parcela das ruas começa a gritar contra as mudanças na Previdênci­a, é premente que Temer reveja sua linha de corte.

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