Folha de S.Paulo

Primeiro delator da Lava Jato pode voltar à prisão

Procurador­es apontam contradiçõ­es nas falas de Paulo Roberto Costa

- MARIO CESAR CARVALHO

Defesa do ex-diretor da Petrobras diz que forçataref­a do Ministério Público em Curitiba tem ‘sanha punitivist­a’

No dia em que a Operação Lava Jato foi deflagrada, em 17 de março de 2014, a vida de Paulo Roberto Costa virou uma montanha-russa.

Ex-diretor da Petrobras, ele foi conduzido à força para depor. Enquanto a Polícia Federal fazia buscas em sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio, Costa instruíra uma das filhas a retirar documentos e dinheiro de propina que ele havia guardado num escritório.

Como acontece nos filmes de terror, a tentativa de ocultar provas persegue Costa até hoje e pode levá-lo à prisão novamente.

Costa foi preso em 20 de março, quando a PF descobriu, por meio de imagens gravadas no seu escritório, que sua filha retirara documentos e dinheiro da empresa dele, a Costa Global. Solto pelo STF dois meses depois, foi preso uma segunda vez, em 11 de junho, quando a polícia descobriu que ele recebeu propina na Suíça.

Durante a segunda prisão, tomaria uma decisão que se tornou um dos marcos da Lava Jato: decidiu delatar em agosto de 2014, tornando-se o primeiro colaborado­r a narrar como ocorria a corrupção na Petrobras.

Ele contou, por exemplo, que recebeu propina da Odebrecht na Suíça, abrindo caminho para que a força-tarefa da Lava Jato desmontass­e a versão da empresa de que não pagava suborno. Dois anos depois, a Odebrecht confirmou a versão de Costa, quando 78 de seus executivos fizeram acordos de delação.

Partiu de Costa, também, informaçõe­s que levaram a Procurador­ia a abrir inquéritos contra os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Edison Lobão (PMDB-MA), Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO), Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

O ex-diretor também devolveu R$ 79 milhões, o total de recursos que mantinha em contas na Suíça e nas Ilhas Cayman, no Caribe, e participou de mais de 200 depoimento­s para confirmar o que dissera na delação.

Por que, então, a força-tarefa de Curitiba quer cassar os benefícios de Costa?

Procurador­es dizem que os benefícios devem ser anulados por causa de mentiras e contradiçõ­es dele e de sua família. O pedido foi feito em 17 de fevereiro deste ano.

Os procurador­es afirmam que Costa e sua família mentiram e caíram em contradiçã­o sobre os episódios que ocorreram naquele dia. Segundo a força-tarefa, Costa mentiu quando disse que pediu para sua filha retirar R$ 50 mil porque, na verdade, ela saiu do escritório com R$ 100 mil e US$ 10 mil.

As duas filhas de Costa relataram que nunca tiveram contas no exterior, mas depois afirmaram que tinham dado o passaporte delas e dos genros para o pai abrir a conta nas Ilhas Cayman.

Os procurador­es dizem ainda que um genro de Costa mentiu ao afirmar que não retirara dinheiro do escritório dele.

A defesa de Costa contesta essas acusações e aponta que os procurador­es cometeram erros de interpreta­ção sobre esses fatos. Também diz que as supostas contradiçõ­es são irrelevant­es, já que todos os recursos que estavam no escritório em 17 de março foram entregues para a PF três dias depois. “Aquilo que se revela mais fundamenta­l ao presente caso penal foi efetivamen­te confessado pelos colaborado­res aqui acusados”, diz João Mestieri, advogado de Costa, em alegações que contestam as acusações dos procurador­es.

Outros delatores já omitiram fatos. Julio Camargo, por exemplo, deixou de citar em seus depoimento­s iniciais que Eduardo Cunha (PMDBRJ) recebera uma propina de US$ 5 milhões para liberar um compra de navios-sonda pela Petrobras no valor de US$ 1,2 bilhão. Nada aconteceu com Camargo.

Para Mestieri, o pedido para cassar os benefícios de Costa deriva da “sanha punitivist­a” da força-tarefa de Curitiba e vai gerar inseguranç­a jurídica, já que todos os alvos da delação do ex-diretor poderiam se beneficiar no caso de a demanda ser aceita pelo juiz Sergio Moro. Se o juiz concordar com as alegações da força-tarefa, Costa deve voltar para a prisão.

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Cassiano Rosário 23.nov.2016/Futura Press/Folhapress O ex-diretor da Petrobras e delator Paulo Roberto Costa

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