Folha de S.Paulo

Justiça do Rio manda mulher de Cabral para prisão domiciliar

Juiz entendeu que filhos do casal teriam a criação comprometi­da caso ficassem longe da mãe

- LUCAS VETTORAZZO FELIPE BÄCHTOLD

Gerente que virou delatora disse que desde 2014 vendeu joias no valor de R$ 6 milhões ao casal DE SÃO PAULO

Com poucos meses de existência, o braço fluminense da Operação Lava Jato já se aproxima da investigaç­ão sob responsabi­lidade do juiz paranaense Sergio Moro em quantidade de suspeitos mantidos na prisão.

Estão detidos por ordem do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal do Rio, 19 pessoas. Na Lava Jato “original”, no Paraná, são hoje 24 suspeitos em regime fechado, sendo que três dos réus permanecem na cadeia tanto por determinaç­ão de Moro quanto de Bretas, incluindo o exgovernad­or do Rio Sérgio Cabral (PMDB).

Um dos presos notórios da Lava Jato fluminense é o exbilionár­io Eike Batista. Há ainda agentes públicos, como um agora ex-diretor da estatal RioTrilhos, detido nesta semana, e suspeitos de ser operadores, como Carlos Miranda, apontado como “homem da mala” de Cabral.

A exemplo do que aconteceu na frente principal da Lava Jato, a segunda instância no Rio também vem negando os pedidos de liberdade encaminhad­os pelas defesas.

Ainda não houve libertaçõe­s devido a acordos de delação, como já aconteceu seguidamen­te no Paraná. Os casos envolvendo o Rio não foram avaliados pelas mais altas cortes do país.

A Lava Jato do Rio foi deflagrada em novembro, com a prisão de Cabral. Surgiu a partir de delações firmadas no âmbito da operação de Curitiba, como o acordo de colaboraçã­o da Andrade Gutierrez, que relatava propina para o ex-governador.

Bretas também mantém presos suspeitos de casos relacionad­os à Lava Jato, como o almirante Othon Pinheiro da Silva, já condenado sob suspeita de desvios na estatal Eletronucl­ear, apuração que inicialmen­te esteve com Moro.

Os mandados de prisão de Bretas usam argumentos parecidos com os de Moro, como o da necessidad­e de manter a “ordem pública”, o que inclui o risco de crimes continuare­m sendo cometidos. Na ordem de prisão de Cabral, o juiz do Rio afirmou que o rigor judicial tem “efeito educativo”.

Advogados que atuam no caso o descrevem como ainda mais rigoroso do que o juiz paranaense.

As ordens de prisão preventiva de suspeitos de corrupção, a partir da deflagraçã­o da Lava Jato, que completa três anos na sexta (17), geraram muitas contestaçõ­es no meio jurídico e dos advogados de defesa, que consideram antecipaçã­o de pena antes do julgamento e uma tentativa de forçar depoimento­s de delação.

“Quando prestigiam prisão preventiva como aconteceu em Curitiba, pode motivar outros juízes a agir da mesma maneira. Só que nem por isso significa que seja a maneira legal”, diz o advogado Roberto Pagliuso, que defende o ex-secretário estadual Hudson Braga, preso no Rio.

Para o advogado Fábio Tofic Simantob, que preside o Instituto de Defesa do Direito de Defesa, as prisões de Bretas “reproduzem o modelo de Curitiba, abusando das preventiva­s”.

“É um quadro que preocupa pela repercussã­o e de como pode se multiplica­r Brasil afora, em crimes que nada têm a ver com a Lava Jato, em uma vulgarizaç­ão da prisão preventiva, em um país com problemas carcerário­s.”

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