Presidente Doria faria bem ao país, afirma Malafaia
O termo “cristão” e variações aparecem no nome de seis dos 56 partidos na fila do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para virar a 36º legenda brasileira. Tem o PEC (Partido Ecológico Cristão), o PPC (Partido Progressista Cristão)...
O PRC (Partido Republicano Cristão) leva vantagem sobre os concorrentes: está sendo articulado com ajuda da Assembleia de Deus, a maior igreja evangélica do Brasil (30% dos 42 milhões de fiéis no Censo 2010, sendo que o total de evangélicos já saltou para três em dez brasileiros).
Essa gigantesca rede de fé deve facilitar a coleta de assinaturas mínimas, recolhidas em ao menos nove Estados, que o TSE exige para formar um novo partido —486 mil, ou 0,5% dos votos válidos na última eleição para a Câmara.
Já foram 300 mil registradas em cartórios país afora, calcula o presidente do futuro PRC, Ronaldo Fonseca (Pros-DF), coordenador da bancada de 24 deputados ligados à Assembleia de Deus.
Fonseca assinou relatório pró-Eduardo Cunha (PMDBRJ) em 2016, quando o agora ex-parlamentar ainda tentava anular sua cassação na Câmara. Os dois são assembleianos.
Fundada por missionários suecos em 1911, a Assembleia de Deus (AD) se multiplicou em várias ramificações, e elas não necessariamente dialogam entre si. Não raramente, estão em lados avessos da política (algumas ficaram com a petista Dilma Rousseff, outras com o tucano José Serra, e parte com a então verde Marina Silva em 2010, por exemplo).
A AD Ministério do Belém (que, apesar do nome, tem sede paulista) controla a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. É essa ala que fomenta a criação do PRC. O secretário-geral do partido será o deputado Paulo Freire (PR-SP), filho do pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder da AD Belém.
As irmãs também estão no Legislativo: Marta Costa é deputada estadual em São Paulo e Rute Costa, vereadora paulistana. “Como instituição, oficialmente, igreja não tem partido, a lei não permite. Mas ela pode ter representatividade. Isso está sendo trabalhado [por meio do PRC]”, diz à Folha o coordenador político da convenção das ADs, pastor Lélis Marinhos. PARTIDO FAMÍLIA A principal bandeira da nova sigla será a família, diz. “Aquela chamada tradicional, com o princípio básico bíblico da família hétero.” Segundo Marinhos, há fóruns dedicados a preparar lideranças para o quadro partidário.
Pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Diogo Rais lembra do abuso de poder religioso nas eleições, como candidato pedir voto em igrejas.
Mas seria preconceito achar que pessoas de fé não têm vez na política, diz Rais. “Por que ter legendas que representem trabalhadores ou ambientalistas, mas não religiosos?”
O pastor Silas Malafaia lidera uma Assembleia, a carioca Vitória em Cristo —e é contra igreja ter vida partidária. “A hora em que ela quer se meter em fazer partido político, perde sua essência. Aí, minha filha, a gente vai se perder”, diz o pastor, que contudo apoia o apadrinhamento de candidatos. Seu próprio irmão, Samuel Malafaia, é deputado estadual no Rio.
O deputado Fonseca estima que o PRC já saia com uma bancada de pelo menos 20 deputados, que em março de 2018 poderão se aproveitar de uma janela na Justiça que autoriza o troca-troca partidário sem sanções eleitorais.
A ideia é protocolar o pedido de criação do partido no TSE até o fim do ano e investir em cargos legislativos no pleito de 2018. Fonseca quer que o número da sigla seja 80. “Afinal, é oito ou 80, né?”
DE SÃO PAULO
Há um lugar no coração de Silas Malafaia para um presidente João Doria.
O pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo disse à Folha ser simpático à ideia de ver o tucano suceder Michel Temer.
Com o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves citados na Lava Jato, correntes no PSDB já defendem a candidatura do prefeito de São Paulo ao Planalto em 2018.
Para Malafaia, “se não descambar, Doria ia fazer um bem danado para o Brasil. Desconfio que ele será um ótimo presidente”.
O pastor afirma preferir o católico Doria ao evangélico Jair Bolsonaro (PSCRJ), esse sim, abertamente pré-candidato ao Planalto. “Bolsonaro tem a favor a integridade, mas creio que há um caminho a seguir até ele se estruturar para ser um estadista”, explica o religioso.
Malafaia lembra que celebrou o casamento do deputado com sua terceira esposa, em 2013, na carioca Mansão Rosa —Michelle Bolsonaro é fiel da igreja do líder religioso.
Já em fevereiro o pastor mostrava seu apreço pelo prefeito paulistano.
“Doria é um camarada inteligentíssimo, espero que ele não decepcione, tem tudo para, no futuro, alçar voos maiores”, escreveu no Twitter, ao que um internauta rebateu:
“Você também falou isso de Eduardo Cunha, lembra?”. (AVB)