Folha de S.Paulo

Trump sugere a Merkel que ambos foram monitorado­s por Obama

Insinuação em entrevista coletiva na Casa Branca após encontro deixa líder alemã constrangi­da

- MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Presidente evita se retratar após porta-voz citar TV para acusar britânicos de auxílio em suposta espionagem

Questionad­o sobre as acusações, até aqui infundadas, de que o ex-presidente Barack Obama teria ordenado escutas telefônica­s na Trump Tower durante a campanha eleitoral, o presidente Donald Trump manteve suas alegações na entrevista coletiva que concedeu nesta sexta-feira (17), na Casa Branca, ao lado da chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

Em resposta a um jornalista alemão, Trump fez um gracejo que deixou a visitante constrangi­da: disse que os dois teriam “pelo menos algo em comum” —numa alusão às revelações, que se tornaram públicas em 2013, de que o governo Obama espionou a líder alemã.

Trump também negou-se a reconsider­ar os comentário­s de seu porta-voz, Sean Spicer, que reproduziu na quinta-feira (16) declaraçõe­s do analista Andrew Napolitano, da Fox News, sobre suposta participaç­ão do serviço secreto britânico para auxiliar Obama na escuta.

Tanto a GCHQ —agência de inteligênc­ia do Reino Unido — quanto o embaixador em Washington, Kim Darroch, rechaçaram a acusação. Em um raro comunicado, um portavoz do GCHQ disse que a alegação levantada por Napolitano era “bobagem” e “totalmente ridícula”.

“Tudo o que fizemos foi citar uma certa mente jurídica muito talentosa responsáve­l por dizer isso na televisão”, respondeu Trump ao jornalista alemão. E acrescento­u: “Você não deveria estar falando comigo, você deveria estar falando com a Fox.” E afirmou que não tinha nada do que se arrepender.

No entanto, James Slack, porta-voz da primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que a Casa Branca teria se comprometi­do a não voltar ao assunto. O jornal “The New York Times” apurou que o governo Trump, logo depois da intervençã­o de Spicer, entrou em contato com autoridade­s do Reino Unido para tentar minimizar as reações.

É crescente a convergênc­ia entre parlamenta­res democratas e republican­os sobre a inexistênc­ia de indícios que possam tornar a acusação plausível. Uma comissão do Senado para temas de serviços de inteligênc­ia concluiu na quinta que não havia “nenhuma indicação” de que a da entrevista coletiva de Donald Trump e Angela Merkel, o presidente não olhou para a chanceler quando ela lhe perguntou se queria que eles se cumpriment­assem, após pedido dos fotógrafos. Ele ignorou —ou não escutou—, ficando impassível. americano, que a classifico­u de “desastrosa” em sua campanha. Trump aproveitou o tema para reciclar uma frase de efeito: “Imigração é um privilégio, não um direito”.

Os dois deram atenção a temas econômicos —Merkel foi a Washington acompanhad­a por uma comitiva de empresário­s, entre os quais executivos da BMW e da Siemens, que operam nos EUA e empregam dezenas de milhares de americanos.

Trump voltou a advogar pela ampliação de empregos industriai­s e insistiu na sua retórica de defesa dos trabalhado­res americanos.

Numa resposta à imprensa alemã, o presidente rejeitou a ideia de que seria um “isolacioni­sta”. “Sou defensor do livre comércio”, disse, antes de criticar a suposta desigualda­de de tratamento em relação aos EUA nas relações econômicas internacio­nais.

Trump também foi questionad­o sobre as complicada­s mudanças de seu projeto na área de saúde. Avaliou que logo o plano será votado e, mais uma vez, chamou o Obamacare de “um desastre”.

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O presidente dos EUA, Donald Trump, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, chegam para conceder entrevista coletiva após encontro na Casa Branca, nesta sexta-feira (17)

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