Folha de S.Paulo

Ativista russa do Pussy Riot ataca Putin em show nos EUA

- FERNANDA EZABELLA

Maria “Masha” Alyokhina, 28, sobe ao palco de gorrinho rosa, lembrando as ativistas da Marcha das Mulheres contra o presidente dos EUA, Donald Trump. Mas logo o gorrinho vira uma balaclava e ela começa a gritar impropério­s em russo . Lembramos que há outro inimigo no recinto, o líder russo, Vladimir Putin.

Alyokhina é membro do coletivo Pussy Riot e ficou 21 meses presa por causa de uma performanc­e de 40 segundos na Catedral de Cristo Salvador, em Moscou. O grupo protestava contra os líderes da Igreja Ortodoxa que apoiavam Putin na eleição de 2012.

A ativista, libertada em dezembro de 2013, estreou seu novo projeto chamado Pussy Riot Theater na quarta (15), num bar semilotado de Austin, como parte do festival South by Southwest (SXSW).

Após rodar o mundo dando palestras, ser tema de livros e documentár­ios, ela finalmente se apresentou nos EUA, ao lado do ator Kyril Masheka e da dupla de músicos Nastia e Max, ela no saxofone e ele nos sintetizad­ores.

“Putin é um imperador que não queremos. Virgem Maria, tire-o do poder”, proclama em russo, com legendas em inglês projetadas num telão, que também traz imagens de ensaios e dos protestos na igreja e na praça Vermelha. “Fomos à praça porque acreditamo­s em outra vida. Queremos fazer uma revolução.”

“A primeira greve de fome é como o primeiro amor. Algo muito confuso”, continua Alyokhina, que usa a performanc­e para narrar a trajetória do Pussy Riot e os maus tratos que passou numa remota prisão na Sibéria.

Ela foi obrigada a ficar em uma solitária, já que corria risco de morte devido às provocaçõe­s de outras detentas. O roteiro é baseado em seu livro “I Felt Free” (“Senti-me livre”), que deve ser publicado no segundo semestre nos EUA, pela Penguin Books.

O show seguiu por uma hora, com a música servindo apenas de fundo para sua voz quase em transe, em longas passagens verborrági­cas. O saxofone é histérico, e os sintetizad­ores e baterias soam como filmes de suspense.

Apesar de algumas rimas fortes, o clima revolucion­ário acaba forçado e o teor artístico, um tanto datado, ainda mais quando Masheka joga copos de água na plateia, depois de passar o chapéu e arrecadar muitas notas. Ele caminha entre os espectador­es sem camisa, seguido pelo saxofone triste de Nastia.

Em outro momento, o grupo joga folhas de papel no público com dizeres “Corra”, “Lembre” etc. O dinheiro arrecadado também é devolvido com uma chuva de notas. Talvez mais constrange­dor é quando Alyokhina cita frases do ditador cubano Fidel Castro (1926-2016), personagem nada popular nos EUA.

Sua colega do Pussy Riot que também foi presa, Nadezhda Tolokonnik­ova, deveria dar uma palestra na quinta no SXSW, mas o evento foi cancelado sem explicaçõe­s.

O festival não respondeu ás ligações da reportagem. Ao fim do show, o produtor disse que um integrante da banda, Yury Muravitsky, não conseguiu o visto americano.

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