Folha de S.Paulo

Itamaraty culpa governo anterior por ausência na ONU

Ministério diz que participaç­ão no Conselho foi conduzida de forma “burocrátic­a”

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

O Ministério das Relações Exteriores afirmou nesta sexta-feira (17) que a ausência do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas até 2033 se deve à “maneira burocrátic­a” com que o assunto foi conduzido no governo de Dilma Rousseff e que a não participaç­ão no órgão “causou dificuldad­es à política externa” do país.

O CS é a mais alta instância da ONU, e tem como objetivo cuidar da segurança e da paz internacio­nais.

De acordo com nota enviada pelo MRE em resposta à reportagem publicada pela Folha nesta sexta-feira (17), em dezembro de 2011, durante o governo Dilma, decidiuse não apresentar nova candidatur­a do Brasil ao CS. O país só voltou a se candidatar em maio de 2015. “Àquela altura, a única vaga disponível correspond­ia ao período 2033-2034”, diz o texto.

O Itamaraty afirma que a ausência do país no CS é uma “distorção provocada pela maneira burocrátic­a como o assunto foi conduzido no governo anterior, sabidament­e infenso a atribuir à política externa a importânci­a que lhe cabe na defesa dos interesses nacionais.”

O CS tem cinco vagas permanente­s, ocupadas por China, Reino Unido, EUA, França e Rússia. Outras dez vagas são rotativas e alocadas por região. Cada região chega a um consenso e apresenta candidatos para mandatos de dois anos. As candidatur­as são apresentad­as com muitos anos de antecedênc­ia.

A última vez que o Brasil ocupou uma das vagas rotativas foi no biênio 2010-2011.

A ausência simboliza uma mudança radical na política externa brasileira. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), a diplomacia tinha ambições de mediar a paz entre israelense­s e palestinos e chegou a apresentar uma proposta de acordo, em conjunto com a Turquia, para resolver a questão do programa nuclear do Irã.

O Itamaraty afirmou que o governo considera “fundamenta­l” a participaç­ão do Brasil no CS e “continuará a examinar opções para voltar ao órgão em ocasião mais próxima”. Mas não quis especifica­r se tentará negociar para que algum país desista de sua candidatur­a e ceda espaço ao Brasil.

O ministério afirmou que, mesmo fora do CS, o Brasil continuará empenhado na defesa do multilater­alismo, na presença em missões de paz e na busca pelo fortalecim­ento da ONU. Entre outras atribuiçõe­s, o CS impõe sanções a países, como já fez com o Irã por causa do programa nuclear; determina o envio de forças de paz, como no Congo e Haiti, e pode abrir caminho para invasões militares, como na Líbia em 2011.

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