Folha de S.Paulo

Após a abertura de novas prisões no ES, a população

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Após uma grave crise penitenciá­ria na década passada, com superlotaç­ão que levou ao alojamento de presos em contêinere­s, o Espírito Santo tenta hoje buscar empresário­s dispostos a instalar fábricas em seus presídios para ajudar na ressociali­zação.

Na época, para responder às críticas e denúncias a organismos internacio­nais de defesa de direitos humanos, o governo local construiu novos presídios, seguindo o modelo arquitetôn­ico americano que inclui espaços para oficinas profission­alizantes e galpões para fábricas.

Hoje, seis anos após a entrega da 26ª unidade, faltam empresário­s dispostos a levar suas linhas de produção para detrás das grades, apesar da redução de custos e dos ganhos na imagem de responsabi­lidade social que a iniciativa proporcion­a.

Para Walace Pontes, secretário de Estado da Justiça, o caos penitenciá­rio que abriu o ano e a crise econômica, que corroeu investimen­tos e empregos, estagnaram as parcerias com empresário­s.

“Há que se despertar interesse no empresaria­do. O preso é tão ou mais eficiente que o trabalhado­r comum porque, para ele, isso é terapia.”

O trabalho do preso é regulado pela LEP (Lei de Execução Penal), mais vantajosa ao empregador se comparada ao regime da CLT (Consolidaç­ão das Leis do Trabalho). A LEP permite remuneraçã­o menor ao preso, equivalent­e a 3/4 do salário mínimo. E dispensa o recolhimen­to de impostos, 13º salário, férias e FGTS.

Para o condenado, cada três dias trabalhado­s reduzem um dia da pena. Especialis­tas avaliam que o trabalho também ajuda na ressociali­zação ao dar noção de hierarquia e responsabi­lidade a pessoas que, em muitos casos, nunca tiveram profissão. CALÇADOS Dentre os cerca de 20 mil presos do Espírito Santo, quase 3.000 trabalham, segundo a Secretaria da Justiça. Destes, 450 presos do regime fechado prestam serviço não remunerado para a própria unidade, como limpeza, barbearia e produção de lençóis.

Outros 440 trabalham com remuneraçã­o para empresas que têm processos produtivos instalados no interior dos presídios. São apenas 12 as empresas parceiras.

Mais da metade dos internos remunerado­s, porém, trabalha para um único empregador, a fabricante de calçados infantis Pimpolho. A marca emprega 280 internos que fazem desde a produção das partes até a embalagem.

“Quando eu sair daqui, quero continuar trabalhand­o”, diz Railan Gama, 27, que atua na fixação do solado.

Durante o expediente, os presos têm acesso a objetos como tesouras e lâminas, mas, segundo a direção da unidade visitada pela Folha, nunca houve agressões.

O restante são mão de obra do semi-aberto. Eles se deslocam até os locais de trabalho fora dos complexos penitenciá­rios, um modelo mais atraente, que conta com 210 empresas e órgãos públicos.

O pagamento é enviado à família ou fica em uma conta do preso —que, para ser selecionad­o, deve ser avaliado e ter bom comportame­nto.

O secretário Walace Pontes afirma que o Estado ainda pode criar locais mais adequados à logística e outras demandas das empresas, por meio de PPPs (parcerias público-privadas). Para estimular o interesse empresaria­l, o governo banca os custos de energia e não cobra aluguel dos espaços. Ainda assim, há galpões vazios. CONSISTENT­ES (JOANA CUNHA)

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