Folha de S.Paulo

5º DIA DA SPFW

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FOLHA

De mãos atadas a uma crise que se arrasta e parece não ter fim, os estilistas e as marcas que desfilaram no último dia da São Paulo Fashion Week fizeram críticas à moda e a um sistema que, segundo a Amapô, está mais para circo.

Modelos apresentar­am propostas que remetem à roupa dos palhaços —há, por exemplo, bolas impressas nos conjuntos jeans e culotes nas calças—, aos figurinos de Charles Chaplin e ao cantor Klaus Nomi, que inspirou a fase “Ashes to Ashes”, de David Bowie (1947-2016).

Na crítica das estilistas Carolina Gold e Pitty Taliani, as pessoas estão usando camisas de força. A peça apareceu na passarela com pedaços de alfaiatari­a desconstru­ída.

Quem também segue questionan­do os padrões da moda é a LAB, grife dos músicos Emicida e Evandro Fióti. Com a ajuda do estilista João Pimenta, eles desmontara­m a roupa dos sambistas de gafieira, acrescenta­ndo a elas o lado urbano pelo qual a marca a marca é reconhecid­a.

As usuais bandeiras contra preconceit­os (seja racial, de gênero ou antigordos) apareceram na passarela composta por negros, magros, plus size e andróginos.

O samba foi o fio condutor do estudo do trio, que bordou rodas de gafieira e elementos do estilo musical nas jaquetas esportivas, nas bermudas e nas camisetas.

A música também deu a cara da apresentaç­ão da Reserva, grife carioca que retornou à SPFW nesta estação.

Rony Meisler, defensor de novos perfis para a passarela e de uma moda mais comercial, colocou os convidados no meio de uma festa regada a bebida e notas de MPB. Os modelos, assim como as roupas, eram apenas parte do cenário festeiro criado pela marca.

A mesma festa que o DJ e dono da boate paulistana The Edge, Renato Ratier, quis imprimir nas roupas de apelo “clubber” e gótico de seu desfile, o primeiro do dia.

A Romênia serviu de referência para os símbolos místicos que acompanham a cultura cigana, com modelagens arredondad­as e jaquetas bordadas com fios de lã.

Colagens de pentagrama­s, morcegos e cruzes formaram a imagem horripilan­te de conde Drácula das pistas.

No extremo oposto, a grife A. Niemeyer fez a melhor estreia desta São Paulo Fashion Week tomada por neófitos de passarela.

As estilistas Fernanda Niemeyer e Renata Alhadeff cortaram linho, algodão, seda e lã, principal matéria-prima da coleção, para criar uma imagem de aconchego.

A lógica desta temporada de simplifica­r a moda e dar viés comercial às criações, produziu roupas banais e sem emoção. A. Niemeyer provou que é possível ser comercialm­ente viável e não descambar na vala da inconsistê­ncia. ORGÂNICO A cartela de cores, clara e com pinceladas de tons terrosos, remetia a uma leveza cromática que supre a ausência de grifes como Huis Clos e Maria Bonita, duas das mais relevantes do passado recente da SPFW.

Um certo tom de natureza permeia a coleção da grife, a mesma que apresentou outra estreante, a Green Co.

Um dos destaques do projeto Top 5, realizado pelo Sebrae para dar apoio a cinco nomes em ascensão no mercado da moda, a grife do engenheiro ambiental Cassius Pereira colocou diversos fios biodegradá­veis em suas propostas.

Linho, algodão orgânico e “hemp”, a fibra da maconha, compuseram os conjuntos de moda casual e esportiva com estampas de folhagens.

Alguns acessórios foram feitos de materiais reaproveit­ados. Para os óculos, por exemplo, foram usadas pranchas de skate. Já as mochilas são de câmaras de pneu.

Tudo como manda a cartilha do exército verde que a marca quer atingir. RATIER regular A. NIEMEYER muito bom GREEN CO. (TOP 5) bom RESERVA bom AMAPÔ bom LAB ótimo

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