Folha de S.Paulo

Michel Melamed debate limites entre o público e o privado

Ator, diretor e dramaturgo estreia neste sábado em São Paulo o seu novo espetáculo, ‘Monólogo Público’

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

‘Com as redes sociais, me perguntei quais são essas fronteiras, como as pessoas constroem personagen­s’, diz ele

Michel Melamed é ator e também personagem em “Monólogo Público, novo espetáculo que o dramaturgo, ator e diretor estreia neste sábado (18) em São Paulo.

Melamed se firmou no palco com uma radicaliza­ção da linguagem teatral, sempre próxima da performanc­e. Agora, a linguagem também é tema. Para a nova peça, o artista refletiu sobre como nosso discurso muda quando passamos da esfera privada para a pública e vice-versa.

“Com as redes sociais, me questionei sobre quais são essas fronteiras. Como as pessoas constroem personagen­s, o que mostram em excesso, o que criam como suposta realidade”, afirma Melamed, que transita na peça por temas como a pós-verdade. “Hoje a disputa não é pela narrativa [o que se diz], mas pela linguagem [como se diz].”

Para tanto, criou-se um palco dentro do palco: uma estrutura de madeira sobre o auditório do Masp, ocupando pouco menos da metade do espaço cênico original.

O ator entra em cena no palco maior, fala numa voz natural, com gestos cotidianos, sob uma luz difusa e sem acompanham­ento musical.

Depois, sobe no palco menor e repete todo o texto (como uma história sobre sua mãe), mas mudando algumas palavras por sinônimos, o que deixa a fala mais empolada —“mãe”, por exemplo, vira “progenitor­a”.

Fala de forma mais grandiosa, gesticula mais, pula, corre. A cada frase, a luz muda, e também a trilha sonora, um um pot-pourri aleatório que vai de Falamansa a The XX.

O ator se divide em cena entre esses dois espaços (que, grosso modo, representa­riam as esferas pública e privada). Por vezes, a estrutura de madeira muda de posição, fica na transversa­l, anda pelo palco. AUTOFICÇÃO Melamed fala em cena como se falasse de si mesmo, como numa autoficção. O tema, contudo, não é o que importa, “mas a maneira de se contar uma história ou onde estou contando”, diz ele.

No discurso, não deixam de ecoar ainda questões sobre o Brasil —“uma obsessão”, conta ele, como já visto em sua Trilogia Brasileira, composta de “Regurgitof­agia” (2004), “Dinheiro Grátis” (2006) e “Homemúsica” (2007), e em “Adeus à Carne” (2012), na qual narrava, como num desfile carnavales­co, inquietaçõ­es sobre o Brasil.

“No país se fala muito sobre polarizaçã­o, mas vejo o avesso disso. Porque não existe essa fixação de ‘aqui é o dentro, aqui é o fora’; ‘aqui é o privado e aqui é o público’; ‘esse é o ator, esse é o personagem’; ‘essa é a esquerda, essa é a direita’. As coisas estão supermistu­radas e estão trocando de posição.”

Além da estreia do espetáculo, Melamed irá lançar pela Betrand Brasil uma nova edição de “Regurgitof­agia”, livro criado como base para a peça homônima, na qual incentivav­a a aplicação do manifesto antropofág­ico lançado por Oswald de Andrade. Trata-se de um volume trilíngue (português, inglês e francês) com novas fotos e textos. QUANDO sáb. e seg., às 21h; dom., às 20h; até 8/5 ONDE Masp - auditório, av. Paulista, 1.578, tel. (11) 3149-5959 QUANTO R$ 60 a R$ 70 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos

 ?? Lenise Pinheiro/Folhapress ?? Michel Melamed durante ensaio do espetáculo ‘Monólogo Público’ no auditório do Masp
Lenise Pinheiro/Folhapress Michel Melamed durante ensaio do espetáculo ‘Monólogo Público’ no auditório do Masp
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Divulgação Cena de ‘O Filho de Joseph’; o sexto longa do norte-americano Eugène Green trata de um adolescent­e à procura do pai

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