Folha de S.Paulo

Filme sobre imigrantes perde força pelo olhar convencion­al

- LEONARDO CRUZ

FOLHA

O documentár­io “Por um Punhado de Dólares - Os Novos Emigrados” empresta seu nome de um clássico do faroeste dirigido pelo italiano Sergio Leone.

No “spaghetti western” de 1964, Clint Eastwood é um pistoleiro sem nome, que faz dinheiro numa cidade sem lei, no México, quase na fronteira com os EUA.

As semelhança­s entre o bangue-bangue de Leone e o doc de Leonardo Dourado se encerram no título e nas questões fronteiriç­as. No filme de 2014 que estreia agora, os protagonis­tas não atiram para ganhar seus trocados e vivem em cidades com muitas leis, regras, restrições.

Dourado mostra a rotina de três grupos de imigrantes: um mexicano que tem uma academia de boxe nos EUA, um gambiano que lava pratos na Alemanha e dois brasileiro­s eletricist­as no Japão.

Em comum, os quatro têm o fato de que mandam remessas mensais a parentes pobres em suas cidades natais.

O foco do longa é esse fluxo diário de dinheiro pelo mundo e as pessoas que trabalham lá longe para sustentar os que ficaram.

Trata-se de um documentár­io bastante convencion­al, dividido entre esses três núcleos de imigrantes (que não dialogam entre si), e muito didático, com letreiros ao longo da projeção que trazem pílulas com dados dessa economia da imigração.

Cada bloco de personagen­s é apresentad­o de forma igual.

Primeiro, a cidade de residência do imigrante, com planos gerais, que indicam a força econômica local, sobre trilha instrument­al anódina.

Corta para o imigrante, que fala de frente para a câmera. Os depoimento­s dão o ritmo da narrativa, intercalad­os por cenas do personagem no trabalho, em casa e no banco, enviando dinheiro à família.

Fechando o bloco, vemos a cidade de origem do imigrante (também em planos gerais, para evidenciar o contraste com a cidade de destino) e conhecemos seus parentes e seus dramas.

Entre um personagem e outro, especialis­tas discutem o problema, especialme­nte nos Estados Unidos.

Nestes tempos da maior crise migratória da história, o cinema tem tratado com frequência do tema e de suas muitas matizes, tanto na ficção como no documentár­io.

“Fogo no Mar”, do italiano Gianfranco Rosi, vencedor do Festival de Berlim em 2016, é o exemplo mais forte produzido nesta década.

“Por um Punhado de Dólares” está distante disso. É mais um filme para a lista: ajuda a refletir sobre o assunto, mas acrescenta pouco ao debate e ao cinema. DIREÇÃO Leonardo Dourado PRODUÇÃO Brasil, 2014, Livre QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO regular

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