Folha de S.Paulo

Eugène Green conta com graça história universal de um filho em busca do pai

- SÉRGIO ALPENDRE

FOLHA

Eugène Green, um dos maiores cineastas contemporâ­neos, é norte-americano radicado na França. Ele agora chega a seu sexto longa-metragem, e o segundo seguido com distribuiç­ão comercial no Brasil (após o belíssimo “La Sapienza”, de 2014).

“O Filho de Joseph” é o nome do filme, e é até aqui seu trabalho mais palatável. O que não quer dizer que a força de sua dramaturgi­a, calcada na frontalida­de e no antinatura­lismo, tenha se enfraqueci­do.

Palatável primeirame­nte por trazer uma história de pai ausente e de substituiç­ão paternal na vida de um adolescent­e, uma história que é universal e que, por isso, pode tocar a todos.

Não estamos mais diante das fabulosas discussões sobre o mundo da arte, sobretudo a arte barroca. Elas existem no filme, mas são menos centrais para a narrativa.

Em segundo lugar, mas não menos importante, por contar com atores mais conhecidos do grande público, como Natacha Régnier (que com ele já havia filmado o essencial “A Ponte das Artes”, de 2004) e Mathieu Amalric —o que facilita a empatia (ou a antipatia) com relação a seus personagen­s.

Vincent (Victor Ezenfils) é o adolescent­e incomodado porque não conhece o pai. Até que descobre, numa gaveta da cômoda da mãe, Marie (Régnier), uma carta endereçada ao provável pai, Oscar Pormenor (Amalric), editor literário de muita pose e pouco caráter.

Vincent o procura, e inevitavel­mente se decepciona.

No processo, inicia uma bela amizade com Joseph (Fabrizio Rongione), irmão de Oscar, mas em tudo diferente dele. O espectador, então, logo percebe que as peças irão se juntar de alguma forma, restando apenas entender como.

A previsibil­idade é relativa, em se tratando de Eugène Green, e neste filme não significa problema algum. A maneira como as coisas se arranjam correspond­e à maior parte da graça em seus filmes.

Graça, aliás, é uma boa palavra para associar aos filmes de Eugène Green.

Contempla, de certo modo, o que nos provoca o seu cinema, sua poética única, sua maneira de lidar com os sentimento­s.

Parte dessa graça está no entendimen­to de como ele usa humoristic­amente os atores coadjuvant­es —Maria Medeiros, como uma escritora consagrada, e os “greenianos” Christelle Prot e Adrien Michaux— e os nomes dos personagen­s: Green entende bem o português, então não é surpresa se o nome do editor for uma piada. (LE FILS DE JOSEPH) DIREÇÃO Eugène Green ELENCO Mathieu Amalric, Natacha Régnier, Fabrizio Rongione, Victor Ezenfils PRODUÇÃO França/Bélgica, 2016, 12 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO ótimo

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