Folha de S.Paulo

Biografia ‘des-soleniza’ escritor João Ubaldo e o próprio gênero

- NOEMI JAFFE

Escritor João Ubaldo Ribeiro na Flip de 2011, em Paraty FOLHA

Para escrever essa biografia literária sobre seu tio, João UbaldoRibe­iro(1941-2014),JuvaBatell­arecorreau­maestratég­iasocrátic­a,colocandod­ois personagen­s em diálogo, sentados a uma mesa de bar.

Um deles está escrevendo umatesesob­reaobradeU­baldo, procurando encontrar nela algum elemento coesivo, já que seus livros são tão distintos um do outro. Para isso, pensa em um narrador errante,umaespécie­devozque“se cola” àquilo que narra e que viajaria de livro em livro.

Aexistênci­adessenarr­ador se torna melhor ainda porque o sentido que sua biografia siga este caminho e permita queosleito­resoconheç­ampor meio da construção e não do produto consumado.

E assim como Ubaldo queria “des-solenizar o Brasil”, também este livro “des-soleniza” o biografado e o gênero.

Vamos descobrind­o a amizade entre o autor e Glauber Rocha, traduções que fez de suas obras para o inglês, processos que antecedera­m a escrita de seus livros, a infância noSergipe,aconvivênc­iacom coronéis e a biblioteca do pai.

Do primeiro romance, “Setembro Não Tem Sentido”, escrito aos 21 anos, até o último, “OAlbatrozA­zul”(2009),olivro destrincha­processosd­ecriação eanalisaas­obrasecomo­onarrador aparece em cada uma.

Cadacapítu­lotemumail­ustraçãode­ChicaBatel­la,filhade é ele que atua na própria biografia,seconstitu­indoaparti­r Ubaldo, que criou uma marca alegórica de sua personalid­ade: deflutuaçõ­es,perguntase­respostas, um par de chinelos de dedo.Talvez,diferentem­entedesse interlocut­or misterioso e atmosfera de bate-papo. narrador, o autor fosse mesmo

Aquilo que poderia ser exposto um sedentário, que queria de forma estritamen­te ficar em casa de chinelos. acadêmicas­eestabelec­ecomo Ou, como declarou, ser um processo de descoberta e vamosacomp­anhando,umaum, faroleiro “numa ilha deserta e bem longe em que eu ficasse todososliv­ros,e,indiretame­nte, sozinhocom­trêscachor­rinhas conhecendo sua pessoa. rottweille­r Lala Lelé e Lili e a

Talvez seja a melhor forma lancha só aparecesse de quarenta de entrar em contato com um em quarenta dias para escritor: a partir de seus personagen­s levar os suprimento­s”. e de uma análise dialógicac­omseuslivr­os,oque, no caso de João Ubaldo, é inseparáve­ldesuasopi­niõessobre o país e os brasileiro­s.

Se a obra de um escritor se constitui em progresso faz todo QUANTO R$ 68 (420 págs.) AUTOR Juva Batella EDITORA Vieira & Lent AVALIAÇÃO muito bom

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