Folha de S.Paulo

Casado três vezes, deixa a companheir­a, Sigrid Nama, um filho, Peter, duas filhas, Anna e Elizabeth, e vários netos.

- JORGE HENRIQUE BASTOS

ESPECIAL PARA A FOLHA

Na alocução que fez ao receber o prêmio Nobel de Literatura em 1992, o poeta caribenho Derek Walcott afirmou: “Nosso arquipélag­o é o sinônimo de pedaços separados de um continente original. Essa é a maneira certa de compor poesia, ou melhor dizendo, recompor”.

A frase resume um pouco este poeta negro nascido em 1930, em Castries, capital de Santa Lúcia, uma ilha espremida entre o oceano Atlântico e o mar do Caribe e morto nesta sexta-feira (17), aos 87 anos, em sua casa perto da localidade de Gros Ilet.

Filho de pai inglês e de mãe descendent­e de escravos, com uma costela holandesa, Walcott era a mescla genuína dos processos históricos que imprimiram a mestiçagem nas Américas Latina e Central.

Estudou na Jamaica, fundou um grupo de teatro (sua outra paixão) com o irmão em Trinidad. Mudou-se depois para os Estados Unidos, em 1981, passando a viver em Boston, dando aulas em universida­des como Harvard, e começou a chamar a atenção com as obras poéticas que passou a publicar.

Em 1990 surge o poema narrativo, “Omeros” (ed. Companhia das Letras), publicado em simultâneo em Nova Iorque e Londres.

A rigor, este poema catapultou-o direto para os braços do maior prêmio literário mundial. Trata-se de um épico à moda de Homero, situado e alegorizad­o no Caribe, dividido em sete partes, em 64 capítulos, compostos por três cantos em forma de tercetos ritmados com uma métrica quase perfeita.

A crítica mundial se rendeu ao talento do autor caribenho. O poeta russo naturaliza­do americano Joseph Brodsky (1940-1996) foi um dos mais entusiasma­dos defensores de Walcott, segundo afirmou: “Graças a ele, o idioma inglês sobrevive”.

De fato, percebem-se nesse grande poema as caracterís­ticas centrais da sua poética. Walcott harmoniza com elegância a coloquiali­dade e a densidade clássica, irrigando nesse espaço sua consciênci­a insular e continenta­l.

Em “Omeros”, entram referência­s não só ao poeta grego mas a Edgar Allan Poe, Maiakóvski, Melvillle, ao próprio Brodsky e até citações a “Yesterday”, dos Beatles, como assinalava o comunicado do Nobel em 1992. CONSTELAÇíO Walcott afirmava que fazia parte de uma constelaçã­o em que brilharam autores como Aimé Cesaire, StJohn Perse ou Edouard Glissant.

Sua obra é composta por mais de 15 livros de poesia e cerca de 30 peças teatrais. Publicou ainda um volume de ensaios, “A Voz do Crepúsculo” (1998), no qual percebemos o seu pensamento sobre poesia e suas afinidades, discorrend­o sobre autores como Robert Lowell, Brodsky, Bob Frost e o controvers­o trinitino V. S. Naipaul.

Seu percurso fulgurante foi perturbado por um escândalo. Em 2009, desistiu de concorrer a um cargo de professor de poesia na Universida­de de Oxford, após cerca de 200 acadêmicos terem recebido um dossiê que detalhava alegações de assédio sexual contra ele em 1982.

Em toda sua trajetória, nunca se distanciou de fato da sua ilha natal, onde exer- citava a paixão pela pintura que herdou do pai; da mãe veio o interesse pelo teatro.

De maneira precisa, resumiu-se a si mesmo no poema intitulado “Goleta Flight”:

“Sou um mulato que ama o mar./Recebi uma sólida educação colonial./Há em mim muito de holandês,/negro e inglês:/ Sou ninguém ou sou toda uma nação.”

Até a conclusão desta edição, a causa da morte não havia sido divulgada; seus editores informaram, porém, que a saúde do escritor estava debilitada havia algum tempo. Walcott, que foi JORGE HENRIQUE BASTOS, FILME CORRIDA MORTAL Jason Statham se especializ­ou em fazer filmes ação, nos quais dirige carros e mata seus inimigos. Nada melhor que um longa chamado “Corrida Mortal”, no qual vive um ex-piloto mandando a uma prisão, para sintetizar sua carreira. Record, 23h15, 16 anos SÉRIE PUNHO DE FERRO Lançada nesta sexta (17), esta é outra série da Marvel que chega à Netflix. Se “Demolidor” e “Luke Cage” apostavam em atores menos conhecidos, agora o protagonis­ta é um velho conhecido da TV, Finn Jones, de “Game of Thrones”. Netflix, 18 anos MÚSICA TODAS AS BOSSAS Para comemorar os 35 anos da banda Blitz, a TV Brasil exibe show gravado pelo grupo nos estúdios da emissora em fevereiro. Com Evandro Mesquita no comando, o repertório inclui “Betty Frígida” e “Aventuras II” TV Brasil, 22h30, Livre

 ?? Divulgação ?? Poeta Derek Walcott, laureado com o Nobel de Literatura
Divulgação Poeta Derek Walcott, laureado com o Nobel de Literatura

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil