Operação da PF leva fiscais à prisão e atinge imagem de gigantes da carne
Polícia diz que frigoríficos pagavam propina a funcionários para liberar produtos estragados
Donos das marcas Friboi, Seara, Sadia e Perdigão negam ter praticado corrupção e dizem cumprir normas
Uma operação deflagrada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (17) atingiu a imagem dos maiores frigoríficos do país e levantou suspeitas de que eles pagaram propina a fiscais do Ministério da Agricultura para liberar produtos estragados e com certificados sanitários adulterados.
A investigação tem como alvo 32 empresas, incluindo a JBS, dona das marcas Friboi, Seara e Big Frango, e a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. Dois executivos da BRF e um funcionário da JBS foram presos pela polícia.
Foram levados à prisão, em caráter preventivo e temporário, 19 fiscais que fariam parte da organização criminosa identificada pela PF. O Ministério da Agricultura disse que interditou unidades de três empresas investigadas e disse que afastou 33 servidores envolvidos com o esquema.
Segundo os investigadores, os fiscais liberaram em alguns casos até a venda de carne estragada, disfarçada com ácido sórbico (um conservante potencialmente cancerígeno), a reembalagem de produtos vencidos e o uso de cabeça de porco e até papelão na produção de embutidos.
A PF afirma que os frigoríficos exerciam influência no ministério para escolher os servidores que ficariam responsáveis pela fiscalização de suas unidades. Executivos da BRF tinham acesso inclusive a uma senha para entrar no sistema interno dos processos administrativos do órgão, de acordo com a polícia.
“Parece realismo mágico. Infelizmente, não é”, diz o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal do Paraná, que determinou as prisões.
O líder do esquema, segundo a PF, era o fiscal Daniel Gonçalves Filho, que foi superintendente do escritório do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016.
“Dedo”, “luva” e “documento” eram alguns dos termos usados pelos fiscais para falar de propina em conversas telefônicas grampeadas pela PF. Peças de picanha, frango, ração para animais e botas foram distribuídas a fiscais, disse a polícia.
O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, foi citado na investigação. Ele aparece numa conversa interceptada pela operação conversando com o suposto líder do esquema criminoso, chamando-o de “grande chefe”. A PF, porém, não encontrou indícios de ilegalidade na conduta do ministro, que não é investigado.
O delegado Maurício Moscardi Grillo afirmou também que o esquema repassou recursos para o PMDB e o PP, mas não apresentou evidências nem detalhes sobre as transferências de recursos.