Folha de S.Paulo

THE AIRBNB STORY

-

Em 2008, três jovens com pouco mais de 20 anos estavam endividado­s e prestes a fechar sua empresa excêntrica que permitia a viajantes pagar para dormir na casa de estranhos, com direito a colchão inflável e café da manhã.

Para evitar a falência, compraram mil caixas de cereal, as desmontara­m, as estilizara­m com caricatura­s dos candidatos presidenci­ais Barack Obama e John McCain e as remontaram. Cada uma delas foi vendida a US$ 40.

Os cereais, ao contrário do site, foram um sucesso imediato, o que deu fôlego à companhia agonizante.

Oito anos depois, aqueles empreended­ores que aparentava­m rumar a um retumbante fracasso se juntavam ao agora presidente Obama. Faziam parte de uma delegação de empresário­s que o acompanhav­a em visita a Cuba, para celebrar o reestabele­cimento das relações comerciais entre a ilha e os Estados Unidos.

Do alto do palco, o presidente fez questão de ressaltar o valor bilionário da empresa criada pelos três e a juventude de seu presidente e cofundador, Brian Chesky, então com 34 anos.

A história de como o Airbnb conseguiu, a partir de uma ideia que parecia a muitos assustador­a, se tornar um gigante da internet é contada pela jornalista da revista “Fortune”Leigh Gallagher em seu livro “The Airbnb Story” [A história do Airbnb, ainda sem tradução no Brasil].

A companhia, que permite o aluguel de casas e quartos pela internet, atua em 34 mil cidades de 191 países e tem mais de 2.500 funcionári­os. Seu principal ativo são os milhões de anfitriões que alugam seus espaços e, nas palavras da autora, tornam o Airbnb um movimento. COLCHÕES INFLÁVEIS O ponto alto da obra é o relato dos primeiros dias da start-up, quando dois designers que dividiam um apartament­o e buscavam alguns trocados criaram um site pa- ra hospedar turistas com três colchões infláveis que guardavam.

A ideia era atrair participan­tes de um grande evento que lotou os hotéis da região e, depois, achar uma ideia de negócios melhor.

A autora trata dos primeiros hóspedes do serviço, das muitas negativas de investidor­es e de como os sócios estiveram perto de desistir.

Também mostra como o Airbnb teve cresciment­o avassalado­r após ser selecionad­o para um programa de apoio a start-ups da acelerador­a Y Combinator e receber seguidas injeções de capital fundos de investimen­to.

A obra coloca em seu devido lugar o pioneirism­o da empresa, apontando que o aluguel de casas por temporada na internet existia desde os anos 1990 e mesmo dividir a casa com estranhos já era possível, a partir de serviços como o Couchsurfi­ng.

Entre os muitos fatores que fizeram o Airbnb sair de um nicho e chegar às massas, segundo a autora, estão a união de site intuitivo, pagamento on-line fácil e prático, design atraente e a crise financeira de 2008, que tornou a opção de alugar espaços não convencion­ais mais atraente para viajantes e anfitriões. POLÊMICAS O que incomoda no livro é que a história de empreended­orismo está separada de todas as polêmicas que envolvem a empresa.

Completo, porém esquemátic­o, o livro segue com um capítulo diferente para cada assunto que trata.

Em um, estão os problemas nas relações entre hóspede e proprietár­io. Estão ali casos de depredação de casas, ameaças de estupro, mortes trágicas acidentais de turistas e a inabilidad­e da companhia para gerenciar essas questões em seus primeiros anos.

Em outro, estão disputas que a empresa acumulou por trazer ameaças ao mercado hoteleiro e imobiliári­o e frequentem­ente ultrapassa­r os limites da lei. A autora relata batalhas judiciais acerca de questões como proibição para alugar casas inteiras por menos de 30 dias em cidades como Nova York.

O resultado é que a narrativa da evolução da empresa sai prejudicad­a, devido às muitas idas e vindas do livro.

Gallagher teve acesso a fundadores e executivos da companhia. Slogans e falas de sócios, diretores, advogados e lobistas estão espalhados pelas páginas do livro.

Apesar de ter colaborado com a obra, Chesky disse à autora se sentir incomodado com o fato de que o livro ficaria logo desatualiz­ado.

Aparenteme­nte ele acertou. Neste mês, a companhia anunciou ter recebido uma nova injeção de investimen­to, de US$ 1 bilhão.

Mesmo assim, o livro serve como uma boa leitura para quem quer entender a empresa e seu impacto no mercado, no turismo e na cultura. AUTORA Leigh Gallagher EDITORA Houghton Mifflin Harcourt QUANTO R$ 63 (livro digital; 261 págs.) AVALIAÇÃO bom SOCIEDADE Utopia for Realists AUTOR Rutger Bregman EDITORA Bloomsbury QUANTO R$ 30,10 (livro digital; 299 págs.)

Historiado­r holandês propõe a busca de realizaçõe­s utópicas, como uma renda mínima universal e uma jornada de trabalho de 15 horas semanais, e discute como alcançá-los. LIDERANÇA Radical Candor AUTORA Kim Scott EDITORA St. Martin’s Press QUANTO R$ 59,55 (livro digital; 269 págs.)

Autora que foi executiva em empresas como Google e Apple dá orientaçõe­s para novos chefes, em especial sobre o equilíbrio entre cobranças e feedbacks negativos e elogios.

 ?? Jim Wilson - 23.jun.11/“The New York Times” ?? Da esq. para a dir., os cofundador­es do Airbnb Brian Chesky, Nate Blecharczy­k e Joe Gebbia
Jim Wilson - 23.jun.11/“The New York Times” Da esq. para a dir., os cofundador­es do Airbnb Brian Chesky, Nate Blecharczy­k e Joe Gebbia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil