Ministro da Justiça chama fiscal de ‘grande chefe’
Houve uso de notas falsas com certificação do Ministério da Agricultura para compra de carne estragada
DE BRASÍLIA
A presença do ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), em grampo da Operação Carne Fraca criou o receio na equipe do presidente Michel Temer de que essa seja uma espécie de prévia de futuras denúncias contra o peemedebista.
Mesmo que a Polícia Federal não veja indícios de ilegalidade na conduta do ministro no episódio em questão, a preocupação é que a revelação de que ele teria um grau de intimidade com o fiscal Daniel Gonçalves Filho, considerado o “líder da organização criminosa”, possa desencadear novas investigações.
Nas palavras de um assessor presidencial, o desgaste na imagem pública do peemedebista será ampliado caso o grampo seja apenas “a ponta de um novelo”.
Na ligação grampeada, feita em fevereiro de 2016, o ministro, na época deputado federal pelo Paraná, chama o fiscal de “grande chefe” e pede informações sobre o frigorífico Larissa, de Iporã (PR), de propriedade de Paulo Rogério Sposito, que foi candidato a deputado federal em São Paulo pelo PPS em 2010.
O fiscal agropecuário foi superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016 e, segundo a PF, chefiava esquema que permitia o recebimento de propina em troca de vistas grossas na fiscalização de frigoríficos.
As suspeitas sobre Serraglio ocorrem no momento em que seis ministros do governo peemedebista, o que representa quase um quarto da Esplanada dos Ministérios, são alvos de pedidos de abertura de inquérito pela Procuradoria-Geral da República no rastro da Lava Jato. OUTRO LADO Em nota, o Ministério da Justiça afirmou que não há nenhum indício de ilegalidade na conversa gravada de Serraglio e que o grampo é um exemplo de que o ministro não interfere na PF. PMDB E PP As propinas pagas a fiscais abasteceram o PMDB e o PP, de acordo com a PF.
“Uma parte dos valores era revertida para esses partidos”, disse o delegado Maurício Moscardi Grillo.
A PF não sabe, porém, os motivos que levaram os fiscais a repartir parte dos valores que recebiam —se por indicações políticas ou outras razões. Também não foram identificados quem eram os políticos beneficiados. (GUSTAVO URIBE E RANIER BRAGON) ESTELITA HASS CARAZZAI, Oposição quer CPI folha.com/no1867455
Para o consumidor que ficou temeroso com as notícias e quer tomar cuidado extra no manuseio da carne, o especialista Mario Portella recomenda que as pessoas voltem a ter contato direto com o açougueiro e façam perguntas sobre a procedência da carne e a data de abate do animal.
O chef István Wessel, especialista em carnes, recomenda comprar os produtos com datas mais próximas da produção do que do término do prazo de validade. “O tempo trabalha contra a conservação dos alimentos, mesmo dentro do período da etiqueta.”
Ele lembra também que o nariz é o melhor fiscal. “Todo produto dá sinais quando começa a se decompor ou quando recebeu um tratamento químico. A carne em condições normais não tem cheiro.”
Ele ressalta que, quando a peça é embalada a vácuo, o pacote tem um cheiro que deve desaparecer em dois ou três minutos. Caso contrário, há algo errado. Não se guie apenas pela cor, que pode ter alteração por diversos fatores. (GABRIEL ALVES, MAGÊ FLORES E MARIANA VERSOLATO)