Folha de S.Paulo

Patrocinad­ores sem vergonha

- MARILIZ PEREIRA JORGE COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

EM MENOS de uma semana, a maioria dos patrocinad­ores do Boa Esporte cancelou os contratos que mantinham com o time. Assim que foi confirmada a contrataçã­o do goleiro Bruno, houve uma debandada. Até a prefeitura de Varginha (MG) ameaça romper a parceria, que garante a cessão do estádio, o centro de treinament­o e hotel para a concentraç­ão.

Todos têm mais juízo e são mais decentes do que as empresas que se mantêm firmes ao lado da CBF, apesar dos escândalos divulgados.

Desde que as primeiras prisões foram feitas pelo FBI em maio de 2015, incluindo a do ex-presidente da entidade José Maria Marin, cinco empresas romperam relações, mas apenas depois que outro ex-dirigente, Ricardo Teixeira, e o atual, Marco Polo Del Nero, foram indiciados pela Justiça americana, em dezembro de 2015.

A primeira a jogar a toalha foi a Gillette, seguida por Unimed, Sadia e Michelin. Em novembro de 2016, foi a vez da Samsung romper contrato. Parece óbvio o que leva uma marca a terminar antecipada­mente uma parceria que iria até a próxima Copa. Ela se antecipou a futuros problemas, caso o FBI tenha êxito, mas deixou claro que não apoia bandidagem. Antes tarde do que nunca.

É preciso ter esperança de que algo aconteça para moralizar a CBF e, se acontecer, as empresas que ainda não têm vergonha de patrocinar a entidade, apesar das acusações de corrupção, formação de quadrilha e enriquecim­ento ilícito, hão de sofrer julgamento público até mais duro do que a Justiça fará com os réus.

Hackers invadiram o site do Boa Esporte, ameaçaram os patrocinad­ores, que também viram seus canais de comunicaçã­o inundados por xingamento­s. Faz sentido que empresas não queiram vincular seu nome a um caso como esse, que só piora com as notícias.

Dá para entender a lógica na contrataçã­o de um homem condenado por ter mandado assassinar uma mulher para não pagar pensão. Ao saber dos apelos da mãe de Eliza Samudio, o presidente do Boa Esporte, Rone Moraes, que é pai de uma menina de 16 anos e de outra de 19, soltou a seguinte pérola: “Eu cuido das minhas filhas, sei com quem elas andam e aonde vão...”

O que ele quis dizer? Que se não andasse com as pessoas erradas, Eliza não teria sido morta? Moraes vai manter as filhas longe do time, para que elas não tenham contato com o homem com quem Eliza andava?

A postura de Rone Moraes não é exceção. As famílias que permitiram que seus filhos fossem até o campo para tirar foto com Bruno apenas confirmam o que escrevi há duas semanas: muita gente acha que Eliza apenas teve o que mereceu porque tentou dar o golpe da barriga.

A indignação do momento é porque Bruno terá o maior salário do clube, cerca de R$ 30 mil. Pouco importa. O único fato positivo dessa tragédia é que, se confirmada a paternidad­e, o filho de Eliza terá direito de receber a pensão pela qual ela morreu.

Que empresa toparia ter seu nome associado a uma história dessa? Ao que parece, nenhuma. Já com corrupção temos dez que não têm vergonha nenhuma: Nike, Itaú, Vivo, Guaraná Antarctica, Chevrolet, Mastercard, Gol, English Life, Universida­de Brasil, além de Ultrafarma e Cimed, que decidiram se associar à CBF depois que os escândalos tinham vindo à tona. Vai entender.

Empresas que não têm vergonha de patrocinar a CBF hão de sofrer julgamento público

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