Folha de S.Paulo

Composição de tribunal antidoping impede admissão do Brasil à Wada

Agência internacio­nal contesta presença de membros ligados a entidades esportivas

- PAULO ROBERTO CONDE

DOPING

A Wada (Agência Mundial Antidoping) resiste em readmitir o Brasil ao seu quadro de nações certificad­as devido à composição do Tribunal de Justiça Antidopage­m, cujos componente­s foram anunciados há cinco meses pela ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem).

O estabeleci­mento de uma corte única para julgar os casos positivos era exigência antiga da agência mundial, e a demora para sua criação foi o principal fator que levou ao descredenc­iamento da ABCD, decretado em novembro.

A Folha apurou que está justamente na composição do tribunal a rejeição da Wada.

Cinco dos nove componente­s designados para ocupar cargos na corte têm algum tipo de ligação com confederaç­ões esportivas, o que caminha na direção oposta do que recomenda a agência.

O presidente do tribunal, Luciano Hostins, atualmente é responsáve­l pelo departamen­to jurídico da confederaç­ão brasileira de triatlo.

Ele também já atuou como membro da confederaç­ão brasileira de ciclismo e é procurador do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da confederaç­ão de judô.

Membro do tribunal, Eduardo de Rose é integrante das comissões médicas do Comitê Olímpico do Brasil e da Odepa (Organizaçã­o Desportiva Pan-Americana), que or-

Presidente do tribunal

› Foi procurador do STJD da Confederaç­ão Brasileira de Ciclismo Procurador do STJD da Confederaç­ão Brasileira de Judô Já foi membro da Confederaç­ão Brasileira de Ciclismo e da União Ciclística Internacio­nal › É responsáve­l pelo departamen­to jurídico da Confederaç­ão Brasileira de Triatlo

› › Membro do tribunal

› Gestor de Esporte de Alto Rendimento da Comissão Desportiva Militar Brasileira

Membro do tribunal

› Era presidente do STJD da Confederaç­ão Brasileira de Atletismo até dezembro ganiza o Pan-Americano.

Além disso, De Rose também é consultor da CBDA (Confederaç­ão Brasileira de Desportos Aquáticos).

No grupo de especialis­tas do tribunal também há um gestor de alto rendimento da Comissão Desportiva Militar Brasileira (Guilherme Faria da Silva) e uma promotora com passagem pelo STJD da CBF (Fernanda Bini).

Gustavo Delbin, outro membro, presidiu o STJD da Confederaç­ão Brasileira de Atletismo até dezembro.

A indicação dos nomes do tribunal foi feita pelo Ministério do Esporte, pela Comissão Nacional de Atletas e por confederaç­ões esportivas.

Todos os componente­s têm reconhecid­a experiênci­a na área, mas o pedido da Wada era outro. Em março de 2016, a ABCD divulgou em seu próprio site um comunicado no qual a agência mundial reiterava a necessidad­e de criação de um tribunal único, que “não seja influencia­do pelas federações nacionais”.

A interpreta­ção do conselho de conformida­de da Wada é que o tribunal brasileiro pode sofrer interferên­cia. Por isso, até o momento, ela não concedeu o aval à ABCD.

No mesmo 20 de novembro em que tirou a certificaç­ão da autoridade brasileira antidoping, a Wada também descredenc­iou as agências da Indonésia e do Azerbaijão.

No mês passado, ela readmitiu os dois países à lista de certificad­os em conformida­de com o código mundial.

Com o descredenc­iamento, exames antidoping feitos no Brasil não tem validade internacio­nal. Caso o país sedie alguma competição envolvendo outras nações, terá que mandar os exames para serem avaliados no exterior.

Em uma situação extrema, caso o descredenc­iamento perdure por muito tempo, a participaç­ão de atletas brasileiro­s em competiçõe­s internacio­nais pode ser vetada. OUTRO LADO Procurado pela Folha, o Ministério do Esporte afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que os “questionam­entos referentes à não conformida­de da ABCD devem ser dirigidos à Wada”.

A pasta disse que já entregou à agência tudo o que foi exigido e que, por enquanto, espera um posicionam­ento.

O ministério também disse que a composição do Tribunal de Justiça Antidopage­m é de responsabi­lidade do Conselho Nacional de Esporte. O órgão, no entanto, é vinculado à pasta e tem o ministro Leonardo Picciani e o secretário da ABCD, Rogério Sampaio, como seu presidente e integrante, respectiva­mente.

Seis meses após o encerramen­to dos Jogos Paraolímpi­cos, o Comitê Rio 2016 deve cerca de R$ 100 milhões.

O valor é o montante que a entidade ainda precisa pagar para 36 empresas que trabalhara­m nos eventos (a Olimpíada e a Paraolimpí­ada). A maioria é dos setores de infraestru­tura e montagens de instalaçõe­s provisória­s.

Funcionári­os do órgão negociam com as empresas um desconto na conta. Eles acreditam que o valor da dívida pode cair em R$ 20 milhões.

Caso a entidade não consiga equacionar as dívidas, os mecanismos de garantias poderão ser acionados. Pelo acordo assinado com o COI, a prefeitura e o governo do Estado teriam que bancar o déficit.

A previsão dos organizado­res é que todas as dívidas sejam resolvidas até agosto, quando a abertura da Olimpíada completará um ano.

Nesta sexta-feira (17), o COI publicou relatório com balanço positivo dos Jogos. A conta dos dois eventos já chegou a R$ 40 bilhões. (SÉRGIO RANGEL)

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