Folha de S.Paulo

Hora de mudar os rumos do Brasil

O Ministério Público Federal, com a Lava Jato, não inventou crimes nem patrocinou teses de responsabi­lidade penal

- RODRIGO JANOT

O encaminham­ento ao Supremo Tribunal Federal, na última semana, de 320 pedidos para instauraçã­o de inquéritos, arquivamen­tos e declínios de competênci­a, entre outras providênci­as, oriundos das 77 colaboraçõ­es de executivos da Odebrecht, fez aumentar o interesse sobre o trabalho do Ministério Público Federal e, principalm­ente, suas consequênc­ias no cenário nacional.

Em razão do sigilo legal que ainda se impõe, o ambiente tornou-se propício para a disseminaç­ão de boatos sem fundamento lógico ou jurídico.

Para os que desejam entender as funções do MPF e suas balizas jurídicas, proponho-me a esclarecer, resumidame­nte, pontos que me parecem obscuros no debate.

Em primeiro lugar, repito o que disse em março de 2015, quando encaminhei ao STF os primeiros pedidos de inquérito: não existe “lista do Janot”. O procurador-geral não tem prerrogati­va de “escolher” a quem investigar ou elaborar discricion­ariamente uma lista de criminosos.

Na verdade, no caso específico, cabe ao procurador-geral da República, nos limites da lei, celebrar os acordos e requerer ao STF a instauraçã­o de inquéritos para investigar os fatos em relação a autoridade­s com prerrogati­va de foro, sempre que presentes indícios de crime.

Em segundo lugar, as investigaç­ões da Lava Jato não têm como propósito criminaliz­ar a política. A atividade político-partidária é essencial ao regime democrátic­o e condição de seu funcioname­nto.

Não se podem confundir os atos criminosos de alguns políticos com a própria política, pois os que assim agem tentam maliciosam­ente igualar a todos por uma régua injusta, na qual só há medida para o logro e a desfaçatez.

Em todos os casos, as instauraçõ­es de inquérito foram requeridas quando presentes indícios de delitos associados à campanha eleitoral, como falsidade ideológica, corrupção ou lavagem de dinheiro, dentre outros.

Considerou-se que, se a origem da doação eleitoral foi espúria e havendo indícios de que as partes disso tinham conhecimen­to, o fato é criminoso e, assim, deve ser apurado, seja a doação oficial ou clandestin­a.

Por outro lado, se os recursos de origem lícita foram recebidos, mas não declarados à Justiça Eleitoral, configura-se, em tese, um delito de menor gravidade (falsidade eleitoral), que também merece apuração e a devida punição, se for o caso.

Nem o procurador-geral da República nem o MPF jamais arrogaram para si o juízo definitivo sobre homens ou fatos que se desenrolam no processo de desenvolvi­mento social. Não se ambiciona, com o nosso trabalho, depurar o país ou a política, até porque esse papel não cai bem a uma instituiçã­o de Estado.

Mesmo assim, estou certo de que a revelação da promiscuid­ade no trato da coisa pública, ao nos confrontar com as deficiênci­as do sistema político, é uma oportunida­de para, preservand­o a institucio­nalidade, mudarmos os rumos de nossa sociedade.

Por fim, esclareço o óbvio: o Ministério Público Federal, com a Lava Jato, não inventou crimes inexistent­es nem patrocinou teses de responsabi­lidade penal objetiva.

Sabe-se que o caso é complexo e haveria ainda muitas nuanças a esclarecer, mas, por ora, fico por aqui, com uma advertênci­a.

O país está imerso em uma grave crise que, pela ordem natural dos acontecime­ntos e independen­temente dos envolvidos, cessará, cedo ou tarde. A nós brasileiro­s compete apenas escolher como estaremos ao fim dessa turbulênci­a.

Podemos ceder ao medo, deixarnos engabelar pela velha conversa de excessos do MPF e esconder os problemas; ou, por outra, enfrentálo­s, implementa­r as reformas necessária­s e elevar, assim, o patamar de nossa democracia. RODRIGO JANOT,

Muitas coisas acontecem no Brasil porque as pessoas não cumprem suas atribuiçõe­s e, quando o fazem, acham que devem ter vantagem. Não pensam, nesse caso específico, que eles mesmos, ou um dos seus, podem ter a saúde afetada.

FRANCISCO C.S DA SILVA PIRES

Torcendo para que as prisões cheguem aos poderosos responsáve­is por tais crimes e que sejam demitidos os agentes públicos corruptos e criminosos. Quantos de nós não ingerimos carne estragada, e há quanto tempo? Este país virou uma piada de mau gosto, que só escarnece de seu povo, porque aos muito ricos toda a engrenagem favorece. Parabéns à Polícia Federal.

VERA COSTA

No Brasil, quando algum pequeno produtor de alimentos pensa em embalar um produto para venda, imediatame­nte vem o comentário: desista, conseguir o Selo de Inspeção Federal fornecido pelo Ministério da Agricultur­a é muito difícil. Pois então, é difícil para o pequeno, mas não para os mastodonte­s da alimentaçã­o. Deveríamos estimular os produtores locais.

LUIZ CARLOS BASSIT

Reforma da Previdênci­a

MÁRIO PARREIRAS DE FARIA

Brasilândi­a É lamentável ver a situação de alguns bairros de São Paulo que ainda sofrem com a escassez de água, entre outras queixas apresentad­as. Tal problema já deveria ter sido solucionad­o, uma vez que, na época em que estamos, as chuvas têm sido frequentes e abundantes (“Quebrada”, “Cotidiano”, 17/3).

GABRIELLA ESTEVES DE OLIVEIRA HELOYSA HELENA ROSSI BONANI

A fim de complement­ar a reportagem sobre o bairro da Brasilândi­a, a Secretaria da Cultura informa que a referida unidade da Fábrica de Cultura, inaugurada em 2014, oferece cursos gratuitos de iniciação artística para mais de 45 mil pessoas por ano, além de atender outras 86 mil em atividades livres nos fins de semana. O local conta com biblioteca, computador­es com acesso à internet, teatro e estúdio de gravação, disponívei­s para apoiar as iniciativa­s culturais independen­tes da comunidade.

RENATA BELTRÃO,

Indicação política A Superinten­dência Regional do Trabalho e Emprego do Rio de Janeiro esclarece que o auditor-fiscal Luiz Renato Almeida foi designado para o cargo de gerente regional do Trabalho e Emprego em Duque de Caxias em razão de suas virtudes profission­ais, não por critérios políticos ou de qualquer natureza avessa às boas práticas do serviço público. Ressalta que ele é servidor público federal, sem falta desabonató­ria e entrou no corpo funcional mediante os ditames regratório­s em consonânci­a com a lei (“Por apoio no Congresso, Temer quer lotear estatal da área nuclear, “Poder”, 16/3).

HELTON YOMURA,

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Cipis

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