Folha de S.Paulo

50 ANOS DE cartolagem

Presidente do Vasco, Eurico Miranda, 72, completa meio século como dirigente criticando a modernizaç­ão do futebol

- SÉRGIO RANGEL

DO RIO

Um dos mais polêmicos dirigentes do futebol brasileiro, Eurico Miranda, 72, completa 50 anos na vida política dentro do Vasco. Presidente do clube pelo quarto mandato, o carioca faz um discurso na contramão da modernizaç­ão do futebol.

Fora do esporte, o dirigente colecionou denúncias. Na CPI do Futebol, concluída em 2001, o cartola foi acusado de apropriaçã­o indébita de dinheiro do Vasco e falsidade ideológica por uso de “laranja” em desvios de recursos. Ele rebate as acusações.

Fumando charuto durante a entrevista de uma hora e 40 minutos na sua sala em São Januário, o cartola diz estar recuperado de um câncer na bexiga e em parte do pulmão no início da década.

Deputado federal por dois mandatos, o cartola admitiu que o pagamento de propina existe na política e no futebol. Mas garante que nunca se beneficiou. “Tenho certeza que para Bangu não vou.” Folha - O futebol melhorou ou piorou nestes 50 anos?

Eurico Miranda - Está pior. Vejo que a chamada “profission­alização”, apregoada por alguns, não funciona. Vejo profission­ais que vão pulando de um clube para outro. Não existe mais a ligação que existia antigament­e. Você estava no clube por sentimento, por amor. Isso acabou. Se o futebol está pior, o que fez o senhor voltar ao Vasco?

Voltei porque o clube precisa. Saí daqui para me tratar [foi diagnostic­ado com câncer]. Dizem que perdi uma eleição e me afastei. Na verdade, não concorri. Não voltei para coroar a minha trajetória. Mas não aguentei ver o que acontecia no Vasco. Perdemos a condição de clube protagonis­ta. O Vasco estava descendo a ladeira. Voltei porque achava que tinha condição de reverter o quadro. O senhor continua no Vasco até quando?

Fico aqui até o Vasco não precisar mais de mim. Ainda não sei [se vai tentar à reeleição no final do ano]. Pode ser. Mas se aparecer alguém aqui que consiga resolver os problemas deixo o cargo na hora. O senhor é um conservado­r. Os jogadores hoje usam tatuagem, brincos. O que acha?

Jogador do Vasco não usa brinco. Se chegar, mando tirar. O Romário usava brinco e tirou aqui. Não tenho nada contra, mas usa fora daqui. Já contratou algum atleta gay?

Não tenho nada contra homossexua­l, mas contra veado. Veado não precisa ser homossexua­l. É só olhar o que é veadagem no dicionário. Mas pode jogar no Vasco?

Não vou verificar se é ou não. Sou contra o gay espalhafat­oso. Todos têm direito de ter a sua opção, só não pode agredir o outro.

 ?? Fotos Ricardo Borges/Folhapress ?? Eurico Miranda durante entrevista em São Januário
Fotos Ricardo Borges/Folhapress Eurico Miranda durante entrevista em São Januário

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil