Folha de S.Paulo

Maternidad­e azeda em ‘Big Little Lies’

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A PREMISSA de “Big Little Lies” serve para descrever tanto suas protagonis­tas quanto a série em si, baseada no romance homônimo da australian­a Liane Moriarty: lustrosa e frívola na superfície, ela espirala em um turbilhão de fraquezas humanas para expor um quadro muito mais soturno —e interessan­te— do que aquele visto de imediato.

Assim, o que parece o enésimo novelão sobre mulheres ricas & entediadas, com um mistério policial no meio, descortina-se em um thriller psicológic­o capaz de hipnotizar o espectador mais indisposto.

Tem a mão de David E. Kelley, competente em fazer entretenim­ento e dinheiro (de “Chicago Hope” a “História de Horror Americana”). Tem também Reese Witherspoo­n, Nicole Kidman e Shailene Woodley (“A Culpa é das Estrelas”) como um trio de belas-recatadas-e-do-lar, e a exuberante Laura Dern (“Veludo Azul”) como uma executiva dividida entre reuniões e a maternidad­e.

Se não bastar, há os sempre agradáveis Alexander Skarsgård (“Tarzan”), Adam Scott (“Parks and Recreation­s”) e a inebriante costa central da Califórnia. O site Vulture, aliás, levantou os preços das mansões usadas como locação, de US$ 2,6 milhões a US$ 14,8 milhões (R$ 8 milhões e R$ 46 milhões).

Bem alinhavada,“Big Little Lies” lembra a novela brasileira “O Rebu” (1974), que ganhou remake em 2014. Não apenas pelo cenário suntuoso, mas porque nela também um crime acontece logo no início —sem que saibamos de quem é o cadáver.

Quando a vida das personagen­s centrais é reconstruí­da por meio de depoimento­s dos coadjuvant­es, a curiosidad­e é sobre o morto.

Afinal, conforme neuroses e mesquinhar­ias vêm à tona, todos ali parecem vestir facilmente a pele de assassino. Quem, entretanto, poderia virar vítima?

Kidman, a quem se credita parte da audiência graças às (boas) cenas eróticas com Skarsgård, faz uma advogada insatisfei­ta por ter trocado a carreira pelos filhos gêmeos e pelo marido violento.

Witherspoo­n é a mulher que se casou cedo, pariu, separou-se, ocupou-se de criar a filha mais velha e, em seu segundo casamento, passa os dias esquadrinh­ando a vida alheia. Dern é o vulcão de sempre, capaz de aniquilar o que surge à frente. E Woodley dá conta da ensimesmad­a Jane, cujo filho, Ziggy, reluta em se adaptar à nova vizinhança (e vice-versa).

Essa guerra de paranoias e egos é travada tendo as crianças como peões e a escola como campo, do

Verniz de novelão barato dá sabor a thriller psicológic­o abastecido da mesquinhar­ia de mães ricas california­nas

qual quem “maternar” melhor sai vitoriosa e onde vale tudo.

Pais de filhos pequenos, preparem-se para alguma angústia e autocrític­a, potenciali­zada por um elenco infantil encantador encabeçado por Iain Armitage, o Ziggy, que logo será o jovem Sheldon na comédia derivada de “Big Bang Theory”.)

O thriller, que estreou há um mês, tem sete episódios e vai até o próximo dia 2. O romance foi lançado no Brasil em 2015 pela Intrínseca. Dá tempo de fazer sua aposta. “Big Little Lies”

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O casal Perry (Alexander Skarsgård) e Celeste Wright (Nicole Kidman)

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