Folha de S.Paulo

Há como expandir as atividades sem vulgarizar o produto

PRESIDENTE DA FABRICANTE DE RELÓGIOS TAG HEUER FALA SOBRE OS CUIDADOS PARA EQUILIBRAR CRESCIMENT­O E IMAGEM DE MARCA

- EDUARDO SODRÉ

FOLHA

Freddy Rabbat entrou no mercado de luxo como importador de canetas e isqueiros em 1989, ano em que a inflação acumulada ultrapasso­u os 1.700%. Após longa passagem à frente da Mont Blanc, é hoje o presidente da Tag Heuer no Brasil, tradiciona­l marca suíça de relógios. Folha - O que faz algo ser parte do mercado de luxo?

Freddy Rabbat - Esse segmento tem a ver com qualificaç­ão do que se oferece, é a cereja do bolo que faz todo o resto evoluir. Há algum tempo era possível comprar um macarron de R$ 9 da Ladurée, nada mais do que dois suspiros colados por um docinho, e isso era uma experiênci­a de altíssimo luxo, com uma receita fantástica e uma equipe bem treinada de funcionári­os.

Muitas vezes a compra de um automóvel de R$ 500 mil não irá proporcion­ar essa experiênci­a, pela falta de pessoas qualificad­as para o atendiment­o ao cliente. O que era luxo em 1989?

Hoje você chega ao restaurant­e e põe um telefone bacana sobre a mesa. Naquela época, colocava-se o maço de cigarros e um isqueiro Dupont. Isso era luxo, um assunto sobre o qual conversar. Comecei importando esses isqueiros e também os da Dunhill. Trazia também canetas dessas empresas, até que a Dunhill comprou a Mont Blanc. Comecei a importar artigos dessa marca também. Havia muito deslumbre com artigos que vinham de fora. era importado era bom. A gente deve essa quebra de paradigma à chegada da Lada [fabricante russa de carros]. O público viu que coisa importada pode ser porcaria. Como sobreviver em um mercado que, por caracterís­tica, produz bens longevos?

Essa é uma grande dificuldad­e. Há muita gente a ser alcançada por um momento, mas não se pode ter um negócio sustentáve­l se houver o objetivo de crescer o tempo todo. Buscar isso no segmento de luxo significa destruir o planeta ou se vulgarizar. O mercado tem o seu tamanho. Mas toda empresa tem o objetivo de continuar a crescer. modelos clássicos e em opções totalmente modernas, como os smartwatch­es [relógios inteligent­es, com acesso à internet]. Dessa forma atinge-se o mesmo público de maneiras diferentes.

Há como expandir as atividades sem perder a qualidade ou vulgarizar seu produto. Temos que lembrar que as gerações vão mudando, e suas demandas, também. Minha geração estava em busca da posse, a atual é mais ligada na experiênci­a, que precisa ser durável. Se as marcas não se adaptarem a isso, não irão a lugar nenhum. A Tag Heuer investe alto no smartwatch, mas empresas de tecnologia parecem insatisfei­tas com as vendas desses itens. É uma aposta arriscada?

A questão é o tamanho das coisas. Uma empresa como a Apple, que comerciali­za 200 milhões de telefones por ano, pode considerar um fiasco vender 7 milhões de smartwatch­es. Para a Tag, vender essa quantidade significar­ia se tornar a segunda maior marca de relógios de luxo do mundo.

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