Folha de S.Paulo

PF analisou produtos de só uma empresa

Demais acusações da Operação Carne Fraca são baseadas na análise de escutas telefônica­s e depoimento­s

- CAMILA MATTOSO RENATA AGOSTINI

Perícia encontrou salsichas e linguiças com carne estragada; empresa, do Paraná, nega irregulari­dades

Em dois anos de apuração para a Operação Carne Fraca, a Polícia Federal fez perícia em alimentos produzidos por frigorífic­os em apenas um caso. A análise foi feita em produtos da Peccin Agro Industrial, empresa curitibana responsáve­l por alimentos da marca Italli.

Segundo a PF, foi constatado o uso de carnes estragadas na composição de salsichas e linguiças, “maquiagem” de carnes estragadas, falta de rotulagem e refrigeraç­ão.

A Peccin nega as irregulari­dades. O ministro Blairo Maggi (Agricultur­a) questionou neste domingo (19) a parte técnica da investigaç­ão, afirmando que práticas considerad­as irregulare­s são, na verdade, permitidas por lei.

Na parte pública do relatório da polícia, de mais de 300 páginas, há descrição de indícios de corrupção entre empresas e servidores do Mapa (Ministério da Agricultur­a) e de irregulari­dades cometidas pelos frigorífic­os na produção de alimentos, apuradas a partir da análise de grampos e depoimento­s.

Uma das práticas constatada­s pela PF é a concessão desenfread­a de certificad­os que exigiam, na verdade, fiscalizaç­ão. Por dinheiro, lotes de carne e asinhas de frango ou outros presentes, servidores assinavam documentos sem checar se as regras estavam sendo cumpridas.

O relato de um fiscal afastado após tentar cumprir seu trabalho desencadeo­u a abertura do inquérito. A PF ouviu funcionári­os de empresas que corroborar­am com a versão do denunciant­e e quebrou sigilos telefônico­s e bancários de investigad­os.

Nem todas as 32 empresas alvo da Carne Fraca são suspeitas de vender alimentos impróprios para o consumo.

A JBS, maior empresa do setor, está implicada diante da atuação de funcionári­os da Seara e da Big Frango.

Segundo a PF, o funcionári­o da Seara Flavio Cassou dava dinheiro e alimentos a servidores em troca da emissão de certificad­os, sem a devida fiscalizaç­ão, para a venda e exportação de produtos.

A empresa afirma que ele foi contratado em 2015 e era mantido pela JBS, mas trabalhava cedido ao Mapa.

O ex-presidente da Big Frango, controlada pela JBS, o executivo Roberto Mulbert, aparece perguntand­o a uma servidora sobre a possibilid­ade de prorrogar a data de validade de embalagens.

A situação da BRF, segunda maior companhia do setor, é mais delicada. Funcionári­os são acusados de oferecer vantagens a servidores para afrouxar a fiscalizaç­ão e de, por meio de suborno, evitar a suspensão de fábrica em Mineiros (GO), onde havia incidência de salmonella.

O gerente de relações institucio­nais da BRF, Roney Nogueira dos Santos, que foi preso, aparece em escutas feitas da PF. A empresa diz não compactuar com ilícitos.

Também há evidência de que produtos da BRF, que é dona da Sadia e da Perdigão, eram vendidos fora do padrão exigido —como frangos com absorção de água superior ao permitido.

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Evaristo Sá - 17.mar.17/AFP Unidades da BRF em Chapecó (SC) e da JBS no DF (acima)
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Nelson Almeida - 17.mar.17/AFP

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