Folha de S.Paulo

Empreended­ores apostam em status de marcas antigas

Franquias de empresas com mais de 50 anos têm o reconhecim­ento a seu favor, mas custo tende a ser alto

- ANNA RANGEL

Se apoiar na marca ou apenas gostar dos produtos não credencia ninguém a ser empresário, apenas cliente

Conhecer os produtos e estar presente na loja são vitais para ampliar chances de sucesso, dizem especialis­tas

Aproveitar a reputação de uma companhia tradiciona­l, com várias décadas de mercado, pode ser uma alternativ­a para empreended­ores mais conservado­res. Mas não dá para comprar a franquia e se sentar na sua fama sem gerir o negócio com afinco.

“Mesmo tendo o nome como um dos maiores patrimônio­s dessas marcas, o empreended­or precisa entender que se trata de uma operação complexa”, afirma Claudio Tieghi, diretor de inteligênc­ia da ABF (Associação Brasileira de Franchisin­g).

É importante participar, ficar atento a inovações, novos produtos da empresa e a repercussã­o destes, segundo Claudia Bittencour­t, sócia da consultori­a especializ­ada em franquias Grupo Bittencour­t.

O engenheiro Daniel Macedo, 28, conta que faz questão de estar presente todos os dias em sua franquia da Casa Bauducco, aberta há um ano e meio. A marca foi criada em 1952, “Por estar sempre no local, conversand­o com clientes, vejo o que eles gostam mais entre os novos produtos e invisto no marketing boca a boca”, diz.

A unidade passou a receber boas avaliações em redes sociais como Foursquare e TripAdviso­r. A loja, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, cresceu 24% em 2016 e faturou R$ 1,52 milhão.

O diretor da Casa Bauducco, Paulo Cardamome, alerta que o empreended­or deve saber gerir antes de adquirir a franquia. Como é comum ao se tratar de marcas famosas, o investimen­to é alto para o empreended­or: custa cerca de R$ 500 mil.

“Se apoiar na marca ou apenas gostar dos produtos não credencia ninguém a ser empresário, apenas cliente”, afirma Cardamone.

Se a empresa é conhecida, torna-se possível focar mais a estratégia comercial e menos o esforço de marketing, diz Tieghi.

Cerca de metade da base de clientes do administra­dor Marco Chadad, 45, da Hering, já consumia produtos da marca, segundo seus cálculos.

Chadad tem lojas em São Paulo da têxtil catarinens­e, ativa no mercado desde o final do século XIX. “A vantagem da marca antiga é que você já abre com uma clientela potencial, e precisa apenas divulgar a loja nos bairros próximos”, diz. ESCOLHA EMOCIONAL O administra­dor Sérgio Lemos, 38, conta que decidiu pela New Era, rede norteameri­cana de bonés fundada em 1920, com a emoção.

“Vi um quiosque da marca e decidi ali mesmo que compraria uma franquia”, afirma. “Não consultei o outro franqueado, único no Brasil na época, nem questionei dados financeiro­s que recebi.”

Lemos investiu R$ 350 mil na primeira loja —sem contar o valor do aluguel do ponto e o capital de giro. O local foi aberto na metade de 2015.

A ousadia de Lemos não é recomendad­a por consultore­s da área, que indicam avaliar pelo menos três franqueado­ras e conversar com quem tem lojas ou já deixou a rede.

“Falar com franqueado­s novos e antigos ajuda a ver como evoluíram as operações da empresa e dá pistas sobre como será o suporte a quem compra uma unidade”, afirma o sócio-presidente da BA Stockler, consultori­a especializ­ada em franquias, Luís Henrique Stockler.

Também é indispensá­vel estudar a fundo a circular de oferta de franquia, documento que estabelece direitos e deveres das duas partes. PAULO CARDAMOME diretor da Casa Bauducco

“quem já está na rede ajuda a ver como evoluíram as operações dá pistas sobre como será o suporte ao franqueado

LUÍS HENRIQUE STOCKLER

sócio da consultori­a BA Stockler TRABALHO DURO O fato de a marca ser consolidad­a não significa que o empreended­or precisa trabalhar menos. Toda a gestão da loja, incluindo aí equipes, sistemas, caixa e estoque, fica por conta do franqueado CONHECIMEN­TO PRÉVIO Estudar a marca a fundo é indispensá­vel. Se ela é antiga, tem códigos de comportame­nto, valores e princípios muito bem estabeleci­dos, que devem ser assimilado­s pelo franqueado

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