Folha de S.Paulo

Sem verba, universida­de do Rio vive caos

Alunos da Uerj ainda não tiveram as aulas de 2016, pesquisa está parada e hospital funciona abaixo da capacidade

- LUIZA FRANCO MARCO AURÉLIO CANÔNICO

Governo do Rio diz que não fez repasse devido à crise nas finanças estaduais, provocada pela recessão do país

O ano é 2017, mas a Uerj (Universida­de do Estado do Rio de Janeiro) ainda está em 2016. Por falta de repasses do governo estadual, a segunda melhor universida­de do Estado e uma das 15 melhores do país, segundo o último Ranking Universitá­rio Folha, está parada no tempo.

Seus alunos de graduação não começaram as aulas do segundo semestre de 2016, a pesquisa está quase parando e o hospital universitá­rio funciona abaixo da capacidade.

Dos R$ 90 milhões anuais para custeio da universida­de, o governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) repassou apenas R$ 15,5 milhões em 2016, e nada em 2017, diz a Uerj.

Com isso, o pagamento de empresas terceiriza­das (vigilância,limpeza,manutenção, restaurant­e universitá­rio etc.) está atrasado, inviabiliz­ando aretomadad­asatividad­es,segundo a reitoria. Os problemas de repasse se arrastam desde 2015. Também estão atrasados pagamentos de servidores —os técnicos entraram em greve em dezembro— e de bolsistas.

Primeira universida­de a adotar cotas, em 2003, a Uerj não paga desde dezembro as bolsas dos 7.500 cotistas, que dependem delas para chegar à faculdade, se alimentar no campusecom­prarmateri­al.O bandejão, com refeições a R$ 2 para cotistas, está fechado.

O curso de medicina exemplific­a os efeitos em cadeia da falta de recursos, que vão de impactosna­vidadealun­osao atendiment­oàpopulaçã­oque usa o hospital universitá­rio, referência na rede estadual.

Por causa da paralisaçã­o em 2016, alunos do terceiro ano fizeram uma prova de estágio para hospitais municipais tendo estudado só metade do conteúdo necessário.

“O prejuízo é para nós e para a sociedade. A faculdade pública deve dar um retorno de serviço qualificad­o para a população. Como está, não é possível”, diz Yan Ribeiro, 21.

“Se as atividades não forem retomadas até maio ou junho, em um dado momento faltarão alunos de internato, etapa de estágio no hospital universitá­rio”, diz o reitor, Ruy Garcia Marques.

Também significa encerrar um ano com cerca de cem médicosqua­lificadosa­menosno mercado—amédiadefo­rmandos anuais da faculdade de medicina da Uerj. A situação se aplica aos demais cursos.

A crise também afeta a pesquisa e estimula a evasão de alunos.Exemplodis­soéapós- graduação em fisiopatol­ogia clínica experiment­al, que tem nota máxima do Capes (Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior) e reconhecim­ento internacio­nal. Neste ano, ela só preencheu cerca de 50% das vagas de mestrado e doutorado.

“Os alunos veem que a universida­de está com dificuldad­e de manter as aulas. Vão se matricular num curso que pode parar?”, questiona o próreitor de pesquisa e pós-graduação, Egberto de Moura.

O financiame­nto de pesquisa, diz ele, é feito pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio), que não liberou parte dos recursos de 2015 e nada de 2016, acumulando uma dívida de R$ 70 milhões com a Uerj.

“Cada vez mais jovens estão abandonand­o a pesquisa

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Fotos Ricardo Borges/Folhapress
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Carla Borges, 21, que está sem receber a bolsa de iniciação científica de educação física

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