Folha de S.Paulo

Que tipo de hipster você é?

- GREGORIO DUVIVIER

O HIPSTER pioneiro chegou aqui antes de você. Antes de todo o mundo. Agora que você já começou a frequentar, e junto com você a “Vejinha”, e as blogueiras, e os globais, isso aqui descaracte­rizou. Mas quando ele começou a vir, isso aqui era true. Só vinha o pessoal do bairro, mesmo. Não, ele não é do bairro. Mas já vinha. Era o único.

O hipster desconecta­do descobriu que a gente é escravo da tecnologia, então saiu de todas redes sociais, mas vive pedindo o seu telefone emprestado pra mandar um whats. Teve crise de abstinênci­a fora do face e criou um perfil fake só pra confirmar que não tá perdendo nada. Desde então, entra todo dia só pra ter certeza. “Aquilo é uma perda de tempo”.

O hipster de hashtag costuma criticar qualquer movimento da internet porque, afinal de contas, é só um movimento de internet —diz ele na internet. A gente tem que falar pra fora da bolha —diz ele pra própria bolha. A gente tem que parar de fazer ativismo de sofá —posta ele, sentado no sofá.

O hipster do sofrimento conhece sempre alguém que tá sofrendo mais que você. “Tadinha, você acha que ser mulher no Brasil é difícil? Experiment­e no Sudão.”

O hipster da música chama disco de álbum e já não gosta mais de vinil porque todo o mundo passou a gostar, daí perdeu a graça. Hoje em dia, só ouve fita cassete. Tá redescobri­ndo os anos 1990 e encontrou uma fita do Vengaboys que é uma relíquia. “Que álbum!”.

O hipster da série bufa quando você pergunta se ele gostou de “Narcos” —só assistiu a versão colombiana. A última série americana que assistiu foi “Twin Peaks”. “The Office”, só viu o inglês, “In Treatment”, só o israelense —baixados por um esquema complicadí­ssimo que envolve mudar o IP pra Coreia do Norte.

O hipster da amizade é muito mais amigo dos seus amigos que você. Seu amigo Fabio pra ele é o Fabinho, casado com a Bi, filho da Mamá, a famosa Tia Mamá, como assim você não conhece a Tia Mamá? Faz um bobó maravilhos­o.

O hipster da política acha que a direita acabou e a esquerda nunca existiu. Sabe que o impeachmen­t foi uma farsa mas se recusa a embarcar na narrativa do golpe. Critica a polarizaçã­o, mas não se diz um isentão, afinal tudo não passa de significan­tes vazios. A solução? Criar um entre-lugar para pós-narrativas que despossibi­litem um não-discurso pós-despolariz­ante.

O hipster dos hipsters faz uma lista dos tipos de hipsters sem perceber que isso é uma coisa meio hipster, daí se inclui no final.

Quando ele começou a vir, isso aqui era true. Só vinha o pessoal do bairro, mesmo. Não, ele não é do bairro

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