Folha de S.Paulo

Sem progresso

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Pela primeira vez em 11 anos, o Índice de Desenvolvi­mento Humano (IDH) do Brasil não avançou. O país repete a mesma pontuação da avaliação anterior, 0,75 —a escala varia de 0 a 1.

Como nenhuma nação nessa faixa da lista apresentou melhora significat­iva, o Brasil permanece na 79ª posição no ranking global de 188 países, abaixo do Azerbaijão (78°) e empatado com Granada.

O mau desempenho não surpreende. O IDH é um índice que se vale de indicadore­s de renda, saúde e educação. Computa-se a renda nacional bruta per capita, a expectativ­a de vida ao nascer e a média de escolarida­de.

Diante da recessão que afeta o país, era inevitável que pelo menos a renda caísse —e de fato foi o que se verificou. Em 2014, data da avaliação anterior, cada brasileiro auferia, na média, US$ 14.858.

Em 2015, esse valor passou para US$ 14.145, retração de 4,8%. Como o recém-divulgado IDH 2106 usa indicadore­s coletados no ano anterior, já se anteveem más notícias na divulgação do próximo índice, tendo em conta os efeitos da crise nos últimos 12 meses.

O resultado brasileiro não foi ainda pior porque as perdas no quesito renda foram compensada­s por melhorias, mesmo que discretas, na expectativ­a de vida e na média dos anos de estudo.

Resta agora a dúvida quanto ao impacto do colapso financeiro nesses dois fatores, que reagem de forma mais lenta a mudanças na economia. Diante da situação de penúria em que se encontram muitas famílias, não é incomum que jovens abandonem a escola para ajudar no orçamento doméstico.

A colaborar na piora do quadro da educação houve ainda forte enxugament­o do Fies, programa que oferece crédito subsidiado para estudantes universitá­rios.

Espera-se, ao menos, que a expectativ­a de vida não seja afetada pela ruína da qual só agora o país começa a se recobrar. Todavia, não se pode descartar que Estados à beira da falência de serviços públicos, como o Rio de Janeiro, registrem um aumento na mortalidad­e infantil.

Até aqui, portanto, o IDH ainda não revela por inteiro a dimensão real do estrago legado pela gestão petista —de resto não limitado aos dados que compõem o índice.

De todo modo, o país deveria estar aproveitan­do seu atual estágio demográfic­o, quando chega ao auge a parcela de pessoas em idade produtiva na população.

Ficar estagnado nos anos finais desse bônus histórico já é um prejuízo atroz, talvez irrecuperá­vel, para os que esperam ver o Brasil no clube dos países desenvolvi­dos.

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