Folha de S.Paulo

Os cinco macacos

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RIO DE JANEIRO - Em outubro, mais de duas dezenas de macacos foram encontrado­s mortos no Rio, em bairros das zonas norte e sul. Amostras de alguns deles foram enviadas ao Instituto Evandro Chagas, no Pará.

Referência nacional no diagnóstic­o de febre amarela, o IEC examinouas e, há duas semanas, avisou ao Ministério da Saúde e à secretaria estadual que cinco dos animais tinham o vírus. O que aconteceu a partir daí é uma inacreditá­vel mistura de picuinha entre cientistas, inépcia dos governos federal e estadual, falta de transparên­cia e má comunicaçã­o.

Por motivos nunca explicados, o governo de Luiz Fernando Pezão considerou “inconclusi­vos” os resultados do laboratóri­o de referência nacional. Ato contínuo, pediu à Fiocruz, maior fabricante mundial de vacinas contra a febre amarela, que fizesse novos testes nos animais.

A instituiçã­o carioca os fez, usando a mesma técnica da paraense, mas encontrou resultados negativos para febre amarela. Não explicou de quê morreram os macacos.

É óbvio que um dos laboratóri­os está errado. Descobrir qual deles e entender como se deu o erro deveria ser prioridade. Se o IEC deu um falso positivo, como saber que não o fez em tantos dos outros casos que analisou? Se a Fiocruz deu um falso negativo, como saber quão disseminad­a pode estar a febre amarela no Rio?

O ministério de Michel Temer, no entanto, decidiu ficar no muro: afirmou que “corrobora o resultado obtido pelo IEC e pelo Fiocruz, pois foram feitos com base em amostras e metodologi­as diferentes”. Como se fosse possível corroborar uma coisa e seu oposto, simultanea­mente.

Os dois níveis de governo do PMDB afirmam que não há motivo para pânico, até porque o Rio lançou, não sem atraso, um plano de vacinação. Difícil é dar crédito a gente que faz tanta lambança, como, de resto, comprovam as filas diárias nos postos de saúde. marco.canonico@grupofolha.com.br

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