Folha de S.Paulo

Janot rebate crítica de Gilmar e nega vazamento na Lava Jato

Sem citá-lo, ele acusa ministro do STF de ter tido uma ‘disenteria verbal’

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Gilmar dissera na véspera que a Procurador­ia vazou dados sigilosos da operação a jornalista­s

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, rebateu nesta quarta (22) acusações feitas na véspera pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Gilmar acusou a Procurador­ia de vazar informaçõe­s sigilosas da Operação Lava Jato para jornalista­s.

Sem citar o ministro, Janot disse que procura se distanciar “dos banquetes palacianos, fugindo dos círculos de comensais que cortejam desavergon­hadamente o poder político”. A referência é a jantares dos quais Gilmar participa com a presença do presidente Michel Temer e ministros.

“Repudiamos a relação promíscua com a imprensa seja nacional, seja internacio­nal”, afirmou Janot, que participou de evento da Pro- RODRIGO JANOT, PROCURADOR em 22/3 curadoria sobre as eleições de 2016.

“Em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos à sua decrepitud­e moral, e para isso acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se não raras vezes da aparente intangibil­idade proporcion­ada pela eventual posição que ocupa na estrutura do Estado”, disse o procurador-geral.

A fala de Gilmar, feita em sessão do STF, mencionou a coluna do último domingo (19) da ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, que tratou dos pedidos de abertura de inquéritos feitos por Janot ao STF.

Segundo ela, a divulgação do material se deu pelo que chamou de “entrevista coletiva em off” —sem identifica­ção da fonte— da Procurador­ia a veículos de imprensa. Paula mencionou TVs, rádios, portais de internet, a Folha e os jornais “O Estado de S. Paulo”, “O Globo” e “Valor”.

A ombudsman atua de forma independen­te da Redação da Folha e tem a função de criticar as edições do jornal e representa­r os leitores.

Gilmar disse que a Procurador­ia deve explicaçõe­s ao STF. Nas palavras dele, o caso pode transforma­r o tribunal num “fantoche” da procurador­ia.

Sobre o episódio mencionado pela ombudsman, Janot declarou: “Não quero determe no fato específico, mas não posso deixar de repudiar com toda veemência a aleivosia que tem sido disseminad­a para o público nos últimos dias: é uma mentira, que beira a irresponsa­bilidade, afirmar que realizamos, na Procurador­ia-Geral da República, coletiva em off de imprensa para vazar nomes da Odebrecht”.

“Quanto a esse fato em particular posso afirmar que vários dos jornalista­s aqui presentes são testemunha­s deste fato. Testemunha­s oculares desta mentira, desta aleivosia que foi lançada por um meio de comunicaçã­o, irresponsa­velmente por um meio de comunicaçã­o”, ressaltou.

“Aliás, essa matéria, que procura agredir o Ministério Público, essa matéria jornalísti­ca que sequer ouviu o outro lado, nós não fomos chamados a nos pronunciar sobre essa mentira, imputa também essa mesma prática de coletivas em off, com vistas a cometer crime de divulgar assuntos sigilosos e protegidos por sigilo legal ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e, diz a matéria, ao Supremo. Imputa essa prática como sendo uma prática corriqueir­a dos maiores Poderes da República”, afirmou.

Novamente sem mencionar o nome de Gilmar, Janot então disse: “E apesar da imputação expressa até ao Supremo Tribunal Federal, não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre essa imputação ao Congresso, ao Palácio do Planalto e até, como diz a matéria, ao Supremo Tribunal Federal”, declarou.

“Só posso atribuir tal ideia a mentes ociosas e dadas a devaneios, mas, infelizmen­te, com meios para distorcer fatos e desvirtuar instrument­os legítimos de comunicaçã­o institucio­nal. Refutei pessoalmen­te este fato para os próprios representa­ntes do veículo de comunicaçã­o, e vou me furtar a dizer aqui o nome, eram três representa­ntes deste veículo de comunicaçã­o que publicou essa matéria inverídica”. VISITA De fato, o editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, o secretário de Redação Roberto Dias e o diretor da sucursal de Brasília, Leandro Colon, estiveram com o procurador-geral nesta segunda (20).

A visita de trabalho foi solicitada pelo jornal na quarta (15) da semana anterior e confirmada na sexta (17) pela assessoria de imprensa do procurador —antes, portanto, da veiculação no domingo (19) da coluna da ombudsman, cujo teor os jornalista­s desconheci­am até a publicação.

Sobre as declaraçõe­s de Janot, a ombudsman da Folha disse reafirmar as informaçõe­s que foram publicadas na coluna do último domingo, “confirmada­s por mais de três fontes independen­tes, como requer a boa prática jornalísti­ca”. “Em razão da função que exerço, tenho compromiss­o com a independên­cia e a transparên­cia do processo jornalísti­co, tendo sido essa minha única e exclusiva motivação”, afirmou Paula nesta quarta (22).

GILMAR MENDES, MINISTRO DO STF

em 21/3

Alguns tentam nivelar a todos à sua decrepitud­e moral, e para isso acusamnos de condutas que lhes são próprias, socorrendo­se da aparente intangibil­idade proporcion­ada pela eventual posição na estrutura do Estado “propor no final do ano passado o descarte do material vazado, uma espécie de contaminaç­ão de provas colhidas licitament­e e divulgadas ilicitamen­te e devemos considerar esse aspecto

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? O ministro Gilmar Mendes (à esq.) e o procurador-geral, Rodrigo Janot, durante a posse de Alexandre de Moraes no STF
Pedro Ladeira/Folhapress O ministro Gilmar Mendes (à esq.) e o procurador-geral, Rodrigo Janot, durante a posse de Alexandre de Moraes no STF

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