Folha de S.Paulo

Cunha vai à Justiça contra livro que usa seu nome

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Os senadores aceleraram a articulaçã­o para votar no início de abril na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) o projeto que pune abuso de autoridade e levá-lo a plenário logo depois.

Relator da proposta, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) entregou nesta quarta (22) a sua conclusão dos trabalhos. O texto define condutas abusivas de agentes públicos dos três Poderes, das três esferas (federal, estadual e municipal), além dos integrante­s do Ministério Público. O foco, no entanto, são os policiais, promotores, procurador­es, e magistrado­s.

O assunto está em discussão desde o ano passado em meio à crise entre o então presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), autor do projeto, e o Judiciário.

As recentes críticas de senadores à Operação Carne Fraca, conduzida pela Polícia Federal, reforçaram o movimento para que o projeto seja votado no curto prazo. O próprio Renan se referiu à ação da PF como “abuso de autoridade”.

O presidente da CCJ, Edison Lobão (PMDB-MA), disse que concederá prazo de uma semana para que todos os colegas possam tomar ciência do relatório de Requião.

Na proposta, o relator lista uma série de práticas que define como abusivas, entre elas, por exemplo, decretar a condução coercitiva de testemunha ou de investigad­o sem prévia intimação de comparecim­ento ao juízo, sob pena de prisão de 1 a 4 anos, e multa.

O projeto estipula a punição, com prisão de 6 meses a 2 anos e multa, a quem “impedir sem justa causa a entrevista do preso com seu advogado” ou àquele que “requisitar instauraçã­o ou instaurar procedimen­to investigat­ório de infração penal ou administra­tiva, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime”.

O relator abre a possibilid­ade para que a defesa processe um juiz que condenou seu cliente na primeira instância caso o da segunda instância seja favorável ao acusado. Requião também decidiu descrimina­lizar a demora de um promotor público em se manifestar em processo, desde que haja justificat­iva.

O senador afirmou que seu projeto não tem nenhuma relação com alguma intenção em controlar o avanço da La- va Jato. “Sou mil vezes a favor da operação e da cadeia dessa gente toda”, disse.

Ele admitiu, no entanto, que a Operação Carne Fraca acelerou o clima favorável ao projeto de abuso de autoridade. “Porque mostrou que tem que por freio”, afirmou.

Investigad­o pela Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Edison Lobão também buscou desvincula­r a proposta de qualquer articulaçã­o para barrar a Lava Jato.

“Esse projeto nada tem a ver com o passado, nem especifica­mente com o presente, nem com o futuro. Tem a ver com todos. Ou seja, essa não é uma lei para esse momento, é uma lei para sempre. Mas como não se imagina que as autoridade vão simplesmen­te abusar, ninguém deve ter essa lei”, declarou.

O projeto tem enfrentado ampla resistênci­a, especialme­nte no Judiciário. Houve, inclusive, uma audiência pública no plenário com a presença do juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na Justiça Federal no Paraná.

Moro chegou a afirmar que a votação do texto poderia ser interpreta­da pela sociedade como uma forma de “tolher” a independên­cia do Poder Judiciário. Obra é ficção e censura prévia, vetada, diz editor

DE SÃO PAULO

O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) apresentou à Justiça uma ação contra a editora Record pela publicação do livro “Diário da Cadeia”, assinado por um autor identifica­do como “Eduardo Cunha (pseudônimo)”. A previsão é que a obra seja vendida a partir de segunda (27).

Ele pede que a editora seja impedida de distribuir o livro e recolha os exemplares que, por ventura, já tenha entregue a livrarias. Pede ainda R$ 100 mil por danos morais.

A obra traz relatos em primeira pessoa do que seria a rotina de Cunha no complexo penal em Curitiba, onde está preso desde outubro do ano passado. O subtítulo do livro (“Com trechos da obra inédita Impeachmen­t”) faz referência ao relato que o peemedebis­ta prometeu publicar após ter sido cassado.

Ticiano Figueiredo de Oliveira, advogado de Cunha, diz que o livro “é uma fraude que induz não só o leitor, como toda a sociedade, a erro”.

Editor da obra, Carlos Andreazza afirma que se trata de um livro de ficção e que a ação de Cunha, antes da publicação do livro, “esbarra na decisão do Supremo que impede a censura prévia”.

“Uma vez que se torne público, quem se sentir agravado tem todo o direito de ir à Justiça. Por enquanto temos apenas Eduardo Cunha processand­o um romance.”

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Waldemir Barreto /Agência Senado Sessão do Senado na tarde desta quarta-feira; senadores articulam apressar votação de projeto que mira Judiciário

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