Folha de S.Paulo

Em carta, preso diz que Lava Jato cria ‘leis próprias’ e critica Moro

- PAULO GAMA

Preso pela Lava Jato desde maio de 2016, o empresário Eduardo Meira escreveu na terça-feira (21) uma carta de próprio punho de dentro do complexo penal em Curitiba com críticas à operação e à atuação do juiz Sergio Moro.

No texto, Meira diz que houve a “criação de leis próprias para justificar prisões e condenaçõe­s contrárias ao nosso ordenament­o jurídico e à nossa jurisprudê­ncia”.

Preso na 30ª fase da operação — que teve o petista José Dirceu como alvo principal — Meira é acusado de operar propinas em contratos da Petrobras. Ele é sócio da Credencial, empresa que, de acordo com os investigad­ores, era usada como fachada para intermedia­r os subornos.

O empresário diz ter sido condenado a oito anos e nove meses de prisão “com base apenas em palavras de delatores”. “A lei explicita: ‘So- mente a palavra de delatores não pode ser o único instrument­o de prova’”, escreve.

O empresário também critica a condenação recebida por ele no início do mês. “Recentemen­te me condenaram a oito anos e nove meses, incluindo, pasmem, ‘associação criminosa’ de duas pessoas (eu e meu sócio); confundind­o quadrilha com baião”, assinalou.

Meira ataca ainda as delações “ditas espontânea­s”, de presos “sem perspectiv­a pelas artimanhas de um juiz, que usando parte da mídia sedenta por justiçamen­to, comete arbitrarie­dades”.

“Mandela já dizia, ao rejeitar acordo para ser solto quando cumpria a sua prisão: ‘Somente homens livres podem negociar, prisioneir­os não podem fazer acordos’.”

No texto, de três páginas, escrito em letra manuscrita alternando canetas preta e vermelha, o empresário lembra também as críticas do ministro Gilmar Mendes às “alongadas prisões de Curitiba” e o “encontro marcado” delas com o Supremo, o que foi sugerido pelo magistrado no início de fevereiro.

Diz esperar que o “encontro seja breve”. “Antes que eu tenha cumprido a pena, à qual não fui definitiva­mente condenado”, finaliza. CARNE FRACA Meira menciona ainda a Operação Carne Fraca, deflagrada na última sexta-feira (17) para apurar supostas irregulari­dades na fiscalizaç­ão de frigorífic­os pelo país.

Diz que a ação atingiu em cheio “um dos maiores setores da economia brasileira e deram prejuízos incalculáv­eis”. Afirma que com a Lava Jato não foi diferente.

“Quebraram um setor de excelência da economia, exportador de serviços e tecnologia, gerador de empregos. Tudo isso, com a aprovação de uma competênci­a processual de forma ilegal.”

O empresário assina a carta como “preso ilegal da República de Curitiba”.

Procurada, a 13ª vara da Justiça Federal em Curitiba não se manifestou sobre a carta do preso.

 ?? Ernani Ogata - 25.mai.2016/Codigo19/Folhapress ?? O empresário Eduardo Meira é conduzido por policiais federais em maio do ano passado
Ernani Ogata - 25.mai.2016/Codigo19/Folhapress O empresário Eduardo Meira é conduzido por policiais federais em maio do ano passado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil