Folha de S.Paulo

Atentado gera medo, mas logo a cidade volta à rotina

- LEÃO SERVA

FOLHA

A cidade de Londres viveu um trauma: um ataque terrorista bem no coração simbólico da cidade, o Parlamento, símbolo de uma das democracia­s mais antigas do planeta, bem embaixo da torre do Big Ben, o relógio que no mundo inteiro significa a hora certa.

O terrorista (mesmo que não se prove que não era militante de organizaçã­o, foi atentado típico) entrou com um carro 4x4 na ponte de Westminste­r e foi atropeland­o pessoas pouco antes das 15h. Uma mulher morreu na hora, outra depois, outra ainda foi jogada no rio Tâmisa, muitos metros abaixo, resgatada em estado gravíssimo.

Fez dezenas de feridos antes de jogar o carro contra o muro do Parlamento que realizava a sessão mais importante da semana: quando a primeira-ministra responde a perguntas dos deputados.

A essência do terrorismo, ensinam os dicionário­s de política, é exatamente maximizar o impacto chocante com o mínimo de recursos: um louco solitário espalhou pânico nas pessoas que estavam na região, matou um policial, deixou presos dentro do Parlamento todos os representa­ntes políticos do país até que a polícia entendesse o que tinha acontecido.

A primeira-ministra foi levada por seus seguranças imediatame­nte para um lugar mais seguro. Em poucos minutos, ele estava morto. Mas presente em manchetes de jornal do mundo todo.

Numa cidade deste tamanho, no entanto, a vida pouco foi afetada. A ponte foi isolada, forrada de ambulância­s, policiais com metralhado­ras e cães pastores foram espalhados por toda a região em volta de Westminste­r. Mas o metrô funcionou normalment­e, os bares e restaurant­es ficaram cheios na animação do happy hour.

A Universida­de de Londres, onde estudo, está longe de Westminste­r. Assim que acabou uma aula, o telefone tocava. O pessoal no Brasil preocupado com o ataque. “Não se preocupe, mãe, está tudo bem”. Apesar do atentado, apesar do susto, o Big Ben não parou de bater a cada hora exata. Londres está onde sempre esteve: 20 anos atrás eram os separatist­as da Irlanda do Norte, agora são outros.

Há, no entanto, um risco: o atentado ocorre no momento em que o mundo está paranoico e a Grã-Bretanha se equilibra sobre pressões nacionalis­tas, às vésperas do “brexit”, saída da União Europeia. Hoje pela manhã, a manchete do jornal gratuito “Metro” já dava conta de que um alerta de terrorismo provoca restrições ao transporte de laptops em aviões.

Há um clima de medo disseminad­o que costuma fazer bem a políticos enfraqueci­dos, como era o caso de George W. Bush em 2001 e, agora, de Theresa May, a primeira-ministra britânica.

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Movimento perto da área do ataque, comBigBen ao fundo

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