Folha de S.Paulo

Diálogos de assessores de Trump foram alvo de grampo, diz deputado

- ISABEL FLECK

Chefe de Comitê de Inteligênc­ia afirma, porém, que intercepta­ção foi feita ‘acidentalm­ente’

O presidente do Comitê de Inteligênc­ia da Câmara dos EUA, o republican­o Devin Nunes, disse nesta quarta-feira (22) que algumas conversas de membros da equipe de transição de Donald Trump foram “acidentalm­ente” intercepta­das por agências de inteligênc­ia.

“Confirmei recentemen­te que, em várias ocasiões, a comunidade de inteligênc­ia acidentalm­ente coletou informaçõe­s sobre cidadãos americanos envolvidos na transição de Trump”, disse Nunes a jornalista­s, sugerindo que os assessores não eram os alvos dos espiões.

Ele se disse alarmado ao descobrir que “detalhes sobre pessoas associadas com o novo governo, com pouco ou sem nenhum aparente valor de inteligênc­ia externa, foram amplamente disseminad­os em relatório à comunidade de inteligênc­ia”.

O republican­o, aliado de Trump, afirmou, inclusive, que o presidente também pode ter tido parte de sua comunicaçã­o intercepta­da.

A declaração de Nunes vem dois depois de o diretor do FBI, James Comey, dizer ao comitê de inteligênc­ia que não há evidências para comprovar as acusações do presidente de que a Trump Tower foi grampeada por Barack Obama durante a campanha. O comitê da Câmara conduz uma investigaç­ão sobre a possível interferên­cia russa nas eleições de 2016.

Apesar de as gravações terem sido “acidentais” e de terem ocorrido após a eleição (novembro, dezembro e janeiro), o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que a declaração de Nunes é uma “informação chocante”.

O deputado republican­o foi à Casa Branca nesta quarta informar Trump pessoalmen­te sobre a descoberta, numa ação depois criticada pelo líder democrata no comitê, Adam Schiff. Aos jornalista­s ele disse não ter sido informado antes sobre as comunicaçõ­es intercepta­das.

Para o democrata, o movimento de Nunes lança “profundas dúvidas” sobre a credibilid­ade do comitê de inteligênc­ia para conduzir a investigaç­ão. “Você não pega uma informação que o comitê não viu e apresenta isso, oralmente, à imprensa e à Casa Branca antes que se tenha a chance de analisar se é significat­ivo”, disse Schiff. “Isso coloca uma nuvem sobre a nossa habilidade de fazer o nosso trabalho.”

Spicer disse que a Casa Branca não teme que a reunião entre Nunes e Trump dê a impressão de que o presidente está tentando interferir na investigaç­ão do comitê. O deputado republican­o também fazia parte da equipe de transição de Trump.

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