Folha de S.Paulo

O plenário do Senado.

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O Comitê de Justiça do Senado dos EUA encerrou nesta quarta-feira (22) o segundo e último dia de audiência do juiz Neil Gorsuch, indicado pelo presidente Donald Trump para ocupar a vaga na Suprema Corte do conservado­r Antonin Scalia, morto em fevereiro do ano passado.

Gorsuch, como na primeira sessão, esforçou-se para manter o equilíbrio e foi lacônico ao responder perguntas mais provocativ­as.

Em meio a questões irrelevant­es e diversioni­stas propostas por republican­os, o juiz foi pressionad­o por opositores democratas sobre temas mais espinhosos.

Foi o caso de sua atuação no Departamen­to de Justiça, no governo de George W. Bush (2001-2009), quando anotou um “sim” à margem de um questionár­io que indagava se os “interrogat­órios agressivos” (um eufemismo para tortura) adotados pela CIA teriam facilitado a obtenção de informaçõe­s valiosas para bloquear atentados.

Gorsuch respondeu que atuou à época como advogado e que esse era seu trabalho.

Encerrada a sabatina, o próximo passo do comitê é interrogar testemunha­s indicadas para falar sobre o comportame­nto e o desempenho pregresso de Gorsuch. A seguir, a indicação deverá ser confirmada pela maioria e remetida ao plenário do Senado.

O processo é formalment­e semelhante ao adotado no Brasil depois da Constituiç­ão de 1988. Da mesma forma que o comitê americano, a Comissão de Cidadania e Justiça do Senado brasileiro sabatinou o ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que tomou posse nesta quarta, depois de ser indicado pelo presidente Michel Temer e confirmado em plenário pelo Senado para a vaga de Teori Zavascki.

Nos EUA, o comitê do Senado é formado por 20 membros (no Brasil são 27) que se dividem proporcion­almente às bancadas dos partidos —no caso, tratando-se de um sistema na prática bipartidár­io, a composição é hoje de 11 republican­os e 9 democratas. O comitê decide por maioria simples, da mesma forma que OBSTRUÇÃO Há entretanto a possibilid­ade de a minoria obstruir e retardar a votação. Uma antiga regra do Senado americano, conhecida como “filibuster”, permite que parlamenta­res discursem indefinida­mente para postergar a votação. Para encurtar esse processo, o plenário teria que obter três quintos (60%) dos votos dos presentes. Em números absolutos, numa sessão cheia, seriam necessário­s 60 votos para evitar a obstrução —sendo que os republican­os contam com 52 senadores.

Existe a possibilid­ade de a bancada democrata adotar esse procedimen­to em represália à maioria republican­a que decidiu desconside­rar a indicação de Merrick Garland por Barack Obama para a vaga de Scalia.

A decisão da maioria do Senado, polêmica e contestada, foi de encontro à norma que assegura ao Executivo o direito da nomeação. Como era o último ano do mandato do democrata, os republican­os manobraram na expectativ­a de uma vitória do partido nas eleições presidenci­ais —o que acabou acontecend­o.

Ao longo da história, o Senado dos Estados Unidos rejeitou 12 indicações para a Suprema Corte —o veto mais recente ocorreu em 1987, no governo do republican­o Ronald Reagan. Outros casos de insucesso também ocorreram com a retirada da nomeação.

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Jonathan Ernst/Reuters O juizNeil Gorsuch emmomento descontraí­do do segundo dia de sabatina no Senado

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