Folha de S.Paulo

Ex-assessor de Trump agia a favor de Putin, diz agência

Paul Manafort teria feito plano para fortalecer presença russa na Ucrânia

-

Empresário próximo ao líder russo contratou americano para fazer lobby no Ocidente e alimentar partidos

Ex-diretor de campanha de Donald Trump, Paul Manafort foi contratado de forma secreta por um bilionário russo há 12 anos para promover os interesses de Vladimir Putin, informou nesta quartafeir­a (22) a agência de notícias Associated Press.

A revelação contraria a negativa do presidente americano de que Manafort nunca teria trabalhado para interesses russos. Em resposta, a Casa Branca disse que Trump não sabia do contrato de seu assessor, mas não vê nada de impróprio na atividade.

Segundo a agência, o americano propôs em 2005 uma estratégia para minar a oposição a Putin nas ex-repúblicas soviéticas. O plano foi entregue a Oleg Deripaska, magnata do setor mineiro próximo ao presidente russo.

Documentos obtidos pela Associated Press mostram que a estratégia foi usada na Ucrânia para fortalecer o Partido das Regiões, sigla aliada à Rússia. Seu líder, Viktor Yanukovich, foi eleito presidente em 2010 e deposto quatro anos depois em uma revolta pró-União Europeia.

O plano também previa aumentar a influência no país pela economia. Ele teria dito a Deripaska e Putin que faria lobby nos EUA e na Europa Ocidental para permitir que empresário­s russos assumissem o controle de empresas privatizad­as pela Ucrânia na década passada.

Para isso, Manafort disse ao empresário que mantinha relações com o governo de George W. Bush, o Congresso dos EUA e o Departamen­to de Estado. Também contratou um escritório de advocacia próximo a Bush e peritos de universida­des americanas para defender os interesses dos oligarcas russos.

Outra frente envolvia o lobby com jornalista­s ocidentais e o aumento dos recursos para os partidos pró-Rússia. O americano queria estender o plano para o Uzbequistã­o, o Tadjiquist­ão e a Geórgia.

Pessoas próximas a Manafort questionad­as pela agência de notícias dizem que, após apresentar o plano, ele assinou um contrato com o empresário, pelo qual recebeu US$ 10 milhões por ano. Ele teria trabalhado com o russo até pelo menos 2009.

Oleg Deripaska enriqueceu ao comprar ativos no exterior que seriam benéficos ao Kremlin. Em 2006, a diplomacia americana o definiu como “entre os oligarcas a quem Putin recorre regularmen­te”. Representa­ntes do magnata negam qualquer relação dele com Paul Manafort.

Já o ex-assessor de Trump confirma ter trabalhado para o russo em vários países, mas diz que é vítima de uma campanha de difamação da imprensa que, segundo ele, qualifica seu trabalho injustamen­te como mal-intenciona­do. “Meu trabalho não envolvia representa­r os interesses políticos da Rússia”, disse.

Manafort trabalhou na campanha de Trump entre março e agosto de 2016. Ele foi afastado justamente por ter sido investigad­o nos EUA por fazer lobby político na Ucrânia a favor de Moscou.

A revelação ocorre em meio a investigaç­ões do FBI e do Congresso sobre os supostos contatos da equipe de campanha de Trump com autoridade­s russas. Os serviços de inteligênc­ia dos EUA acusam o Kremlin de ter interferid­o nas eleições presidenci­ais do ano passado para beneficiar o republican­o.

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que o presidente não sabia da relação de seu ex-assessor com os russos e que não há nenhuma prova de ilegalidad­e. Ele ainda citou que Hillary Clinton e aliados dela tinham ligações com a Rússia.

 ?? Win McNamee - 17.jul.2016/Getty Images/AFP ?? O ex-assessor Paul Manafort na Convenção Republican­a
Win McNamee - 17.jul.2016/Getty Images/AFP O ex-assessor Paul Manafort na Convenção Republican­a

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil