Folha de S.Paulo

Câmara aprova projeto que libera terceiriza­ção ampla

Texto, de 1998, vai à sanção de Temer e permite terceiriza­r até atividade-fim

- RANIER BRAGON

Oposição vai ao STF; aprovação commargem de só 43 votos sinaliza dificuldad­e que governo terá com a Previdênci­a

O plenário da Câmara aprovou nesta quarta (22) projeto de 1998 que regulament­a a terceiriza­ção no país, liberando-a para ser usada em qualquer ramo de atividade das empresas privadas e de parte do setor público. O texto vai à sanção de Michel Temer, que é defensor da proposta.

Hoje, há o entendimen­to de que jurisprudê­ncia da Justiça do Trabalho veda a prática na chamada “atividade-fim”. Ou seja, uma fábrica de sapatos não pode terceiriza­r nenhuma etapa de sua linha de produção, mas sim atividades não diretament­e relacionad­as ao produto final, como o serviço de copa e cozinha, de segurança e de limpeza.

Foram 231 votos a favor, 188 contra e 8 abstenções. A estreita margem, de 43 votos, apesar da ampla base formal de Temer, sinaliza a dificuldad­e que o governo terá para aprovar dois temas correlatos e com potencial maior de polêmica, as reformas trabalhist­a e da Previdênci­a.

Os projetos são parte dos esforços para recuperar a confiança na economia. No ano passado, o governo aprovou o congelamen­to dos gastos federais por 20 anos.

No PMDB de Temer, 10 dos 44 deputados presentes votaram contra a terceiriza­ção ampla. No PSDB, principal aliado do Planalto, foram 11 traições entre os 43 presentes.

A aprovação foi polêmica não só pelas críticas da oposição, para quem a medida representa salvo-conduto para a precarizaç­ão da mão de obra, mas também porque não houve o aval da maior parte dos atuais senadores.

Sob a batuta de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Câmara aprovou a terceiriza­ção em 2015. Mas o texto tramitou lentamente no Senado, já que o ex-presidente da Casa Renan Calheiros (PMDB-AL) dizia ver riscos ao trabalhado­r.

Com isso, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recorreu a uma manobra: desengavet­ou proposta similar de 1998, apresentad­a pelo governo FHC (PSDB).

Esse projeto fora aprovado no Senado em 2002. Só 12 dos atuais 81 senadores exerciam mandato na época. A oposição diz que recorreu ao STF contra a manobra.

O texto que está no Senado também pode ser votado nos próximos dias. Com isso, Temer pode combinar a sanção e o veto de trechos.

O projeto que agora vai à sanção do presidente traz bem menos salvaguard­as para o trabalhado­r do que o debatido em 2015.

Desaparece, por exemplo, a obrigação de que a empresa que encomende trabalho terceiriza­do fiscalize regularmen­te se a firma que contratou cumpre obrigações trabalhist­as e previdenci­árias. Saem, também, as restrições à chamada “pejotizaçã­o” —contratar pessoas como se elas fossem empresas. ELOGIOS E CRÍTICAS O empresaria­do e parte da base governista dizem que a terceiriza­ção irá estimular o emprego e tirar travas à competitiv­idade das empresas.

Os críticos dizem que o objetivo é reduzir o gasto com pessoal, com prejuízo claro aos trabalhado­res.

O texto também permite a terceiriza­ção no setor público, em funções que não sejam essenciais ao Estado. O que está no Senado veda essa possibilid­ade.

Além disso, estabelece que as empresas terão responsabi­lidade “subsidiári­a” em relação a débitos trabalhist­as e previdenci­ários da terceiriza­dora, não “solidária”.

Ou seja, caberá ao trabalhado­r lesado buscar reparo primeiro na terceiriza­dora e só acionar a “empresa-mãe” caso não consiga sucesso na primeira demanda.

Também foi aprovada ampliação de 90 para 180 dias o período dos contratos temporário­s, com possibilid­ade de prorrogaçã­o por mais 90. Como é hoje > Não há lei > Jurisprudê­ncia do TST indica vedação à terceiriza­ção da atividade-fim da empresa e permite a contrataçã­o para atividades-meio Como é hoje > Não há > Exigências são aplicadas caso a caso, através da Justiça do Trabalho Como é hoje > A empresa-mãe responde, de forma subsidiári­a, apenas se fracassar a cobrança da contratada

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? Oposição protesta com‘patos da Fiesp’ contra o projeto
Pedro Ladeira/Folhapress Oposição protesta com‘patos da Fiesp’ contra o projeto

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