Folha de S.Paulo

Cresce a revolta contra a Lava Jato

- VINICIUS TORRES FREIRE

A MARÉ CONTRA o partido da Lava Jato não virou. Mas o apoio a jacobinos de Procurador­ia, Justiça e polícia faz água na elite.

Articulist­as e porta-vozes da direita à esquerda criticam o autoritari­smo crescente do “partido da Justiça” e a demonizaçã­o da política. Regentes auxiliares de Michel Temer lideram o basta, como Gilmar Mendes, entre outros.

O acordão do baixíssimo clero no Congresso ora conta com apoio explícito do clero rebaixado de PSDB e PT. Companheir­os de viagem desses dois partidos e outras figuras mais respeitáve­is na opinião pública elaboram a defesa intelectua­l do armistício.

Misturam-se os objetivos de conter extravagân­cias do “partido da Justiça”, de evitar a destruição de empresas enroladas, de sufocar salvadores da pátria e de preservar a viabilidad­e eleitoral de partidos ditos menos podres.

Os jacobinos deram a deixa. A lambança policial na Carne Fraca e o “pega um, pega geral” das delações deflagram revoltas.

Há empecilhos legais e judiciais a um acordão pacificado­r amplo e geral, além de pedras no caminho político. O ódio mortal entre PSDB e PT, ainda os polos achatados da política partidária, atrapalha conversas desenvolta­s.

Desde 2014, a estratégia é de destruição mútua. Desgraças comuns levaram os dois partidos, cada um por sua conta, a aderir a teses assemelhad­as de salvação, uma comunhão involuntár­ia de interesses.

Os dois partidos aceitam o que se pode chamar de “doutrina Aécio Neves”: se pegarem todos os ruins, sobram apenas os piores. Isto é, querem algum plano de anistia.

Um acordão pacificado­r de amplo espectro, que inclua também o PT, tem pelo menos três empecilhos maiores.

Primeiro, as pontes de diálogo foram queimadas. Desde o fim de 2014, quando começou a campanha para depor Dilma Rousseff, o PSDB imaginava que sairia limpinho da história com que amaldiçoou o PT.

Os tucanos levavam vantagem na luta livre até que o partido passou a ser vítima dos mesmos golpes. Procurador­es, polícia e juízes ameaçam cabeças do PSDB, com apoio das “ruas”.

O PSDB baixou a bola desse jogo anti-PT, mas ainda diz que não vale “misturar todos na vala comum”. Falta diálogo para dar efeito prático ao acordão tácito.

Segundo empecilho: como fazer com que as “bases” engulam o acordão? O que o PSDB vai dizer às “ruas” da “ética na política”? Como explicar que casou em comunhão total de bens com o PMDB e deu gorjeta ao PT? O que o PT vai dizer às suas bases “Fora, Temer!” ao embarcar no trem da alegria dos “golpistas”?

Com jeitinho se inventaria mentira palatável. Mas então se chega ao terceiro problema: falta liderança capaz e legítima o bastante para acertar o armistício entre partidos e vender esse peixe para as “ruas”. O acordão quer zerar o jogo, permitir que os “menos piores” “comecem de novo”. Mas tem também de entregar algumas cabeças e conseguir algum perdão do eleitor mediano.

Os partidos de podridão mais histórica podem até passar o acordão na marra, talvez deixando o PT de fora. Essa solução bruta atiçaria os jacobinos. O povo ficaria em revolta maior, muda ou não. A fúria daria força a salvadores da pátria e à desmoraliz­ação da política. Que era o que se pretendia evitar. QED.

‘Formadores de opinião’, PT, PSDB, empresário­s e regentes auxiliares de Temer atacam ‘partido da Justiça’

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