Folha de S.Paulo

Excluídos da reforma da Previdênci­a

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DE BRASÍLIA

A decisão do presidente Michel Temer de retirar 5,1 milhões de servidores estaduais e municipais da reforma da Previdênci­a poderá garantir mais votos no Congresso, mas deve atrapalhar os esforços dos Estados para equilibrar suas contas, dificultan­do mudança nas aposentado­rias de seus funcionári­os.

O recuo de Temer —que já havia retirado do projeto policiais militares e bombeiros— foi motivado pela constataçã­o de seus articulado­res políticos de que o governo não tem os 308 votos necessário­s para aprovar a reforma como foi enviada ao Congresso.

Líderes partidário­s disseram ao Planalto que a mudança terá efeito significat­ivo no placar da reforma no plenário da Câmara. Um deles estimou que a redução da pressão de corporaçõe­s estaduais ajudará a consolidar, a favor da reforma, votos de até cem deputados indecisos.

O primeiro efeito deve ser a derrubada de algumas emendas ao projeto que procuravam livrar algumas categorias da reforma, o que limpa o caminho para uma aprovação mais rápida do texto.

Serão excluídos da reforma os servidores de aproximada­mente 2.000 municípios que têm regimes próprios de Previdênci­a, o que inclui todas as capitais dos Estados.

Os cerca de 3.500 municípios cujos funcionári­os estão no INSS, por outro lado, serão afetados pelo texto que for aprovado pelo Congresso.

Isso criará distorções, por exemplo, na aposentado­ria de professore­s municipais. Se o projeto do governo for aprovado, professora­s seguradas do INSS só poderão se aposentar aos 65 anos, mas professora­s de cidades excluídas da reforma poderão se retirar aos 50, segundo o consultor da Câmara e especialis­ta em Previdênci­a, Leonardo Rolim.

“É um retrocesso”, disse. “Prefiro que fique como está e que o futuro governo faça a reforma.” Para o especialis­ta em contas públicas Raul Velloso, o anúncio de Temer foi um “ato de desespero”.

Apesar de defender regras iguais na aposentado­ria para diferentes categorias, o economista Paulo Tafner afirmou que “valia a pena ceder”, se fosse esse o preço cobrado pelos deputados para apoiar o projeto do governo.

Ele pondera, no entanto, que Estados e municípios são mais suscetívei­s a essas pressões e terão maiores dificuldad­es de aprovar mudanças.

Segundo líderes de partidos governista­s, haverá mais mudanças na proposta, por exemplo, nos trechos que endurecem as regras da aposentado­ria rural e o BPC (Benefício de Prestação Continuada). EMPENHO Folha

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