Funcionários prometem ato em defesa de frigorífico
DE SÃO PAULO
As exportações brasileiras de carne despencaram após a deflagração da Operação Carne Fraca da Polícia Federal, que investiga suspeitas de corrupção no sistema de fiscalização da produção de dezenas de frigoríficos do país.
De acordo com dados apresentados pelo Ministério do Desenvolvimento ao Palácio do Planalto nesta quarta (22), o valor das exportações de carne caiu de uma média de US$ 63 milhões por dia para US$ 74 mil nesta terça (21).
Alguns dos maiores importadores da carne brasileira, incluindo a União Europeia, a China e o Japão, impuseram restrições ao produto brasileiro nesta semana por causa da desconfiança disseminada pela operação policial.
A queda das exportações é reflexo da maior cautela dos importadores estrangeiros diante da crise do setor e também dos produtores brasileiros, que decidiram adiar abates para enfrentar a brusca queda na demanda.
Na avaliação do ministro da Indústria, Marcos Pereira, que pediu aos funcionários da pasta um monitoramento diário das vendas de carne, os exportadores decidiram segurar os embarques neste primeiro momento.
“Os empresários estão muito cautelosos”, disse à Folha. “Se eles exportam, correm o risco de ficar com a carga presa nos portos de destino, onde o custo de armazenagem é muito maior do que se guardarem os produtos aqui.”
Em audiência pública no Senado, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, estimou que os frigoríficos brasileiros poderão perder cerca de US$ 1,5 bilhão em vendas com a crise, o equivalente a 10% das exportações anuais de carne brasileira.
Segundo ele, apenas China e Hong Kong ainda não aceitaram as explicações do Brasil sobre os problemas apontados pela Operação Carne Fraca e ainda proíbem a entrada de produtos de qualquer frigorífico brasileiro.
Outro países, como Japão, Argentina, Uruguai e Chile, afirmaram que apoiam as medidas tomadas pelo governo brasileiro, que interditou três frigoríficos e proibiu as exportações de outros 18 que são alvo de investigações. CHOQUE A operação da Polícia Federal atingiu os dois gigantes da carne no Brasil, a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e a JBS, dona da Friboi e da Seara, entre outras.
Isso significa que estão proibidas apenas as exportações dessas unidades, responsáveis por menos de 1% das exportações no ano passado, mas a desconfiança criada pela ação policial atingiu todo o setor. “Foi um choque muito grande num mercado que não merecia”, disse Maggi. DIMMI AMORA,
No bairro do Umbará, em Curitiba e sede de pelo menos cinco frigoríficos, é difícil encontrar quem acredite nas suspeitas da Operação Carne Fraca contra uma das principais empresas da região —o frigorífico Peccin.
“Não existe isso aí; [os donos da empresa] não merecem 21 empresas barradas estar presos”, afirma o autônomo Adailton Machnievicz, que trabalhou por dois anos na empresa.
Há dez anos em operação, a Peccin foi interditada na última sexta (17) e é suspeita das mais graves irregularidades investigadas pela Polícia Federal —como o uso de carne estragada em embutidos e de conservantes proibidos.
Os proprietários, o casal 21 empresas barradas Idair e Nair Piccin, assim como Normélio Peccin Filho, irmão de Idair, foram flagrados em escutas falando sobre como adulterar alimentos vencidos para utilizá-los em embutidos. Eles estão presos preventivamente, e negam as acusações.
Os quase 400 funcionários do frigorífico preparam um protesto nesta quinta (23), pela reabertura da fábrica.
“A gente conhece a integridade da empresa”, diz o mecânico industrial Ivan Pereira Gonçalves, 32 anos, há dez no frigorífico.
Muitos dos empregados se referem à Peccin como “nossa família”. “Onde está essa carne podre que a gente não vê? Nós levamos alimento para nossas casas e nunca deu problema”, comenta o funcionário Roberto Spinosa.