Ação do Ibama contra desmate na Amazônia atinge frigoríficos da JBS
Órgão aponta desrespeito a acordo para não comprar gado de áreas embargadas; empresa nega
Frigoríficos são multados e terão de provar que animais não vêm de fazendas sob embargo; cabe recurso
Em operação de combate ao desmatamento na Amazônia, o Ibama embargou nesta semana 2 frigoríficos da JBS e outras 13 empresas acusadas de comprar gado oriundo de áreas de desmate ilegal.
Batizada de Carne Fria, a ação é resultado de uma investigação iniciada há três anos e não tem relação com a ação da Polícia Federal contra fraudes em frigoríficos, desatada na semana passada.
Segundo o órgão ambiental, a JBS e outros frigoríficos nos Estados do Pará e do Tocantins desrespeitaram Termos de Ajuste de Conduta (TACs) assinados após negociação com o Ministério Público Federal, pelos quais essas empresas se haviam comprometido a não comprar gado de propriedades rurais com áreas embargadas por desmatamento ilegal.
Ao todo, a investigação identificou a venda de 58 mil cabeças de gado (90% compradas pela JBS) vindas de 50,7 mil hectares embargados em território paraense, o equivalente a 229 parques Ibirapuera. Essas áreas, segundo o Ibama, estão identificadas e disponíveis na internet.
Na terça (21), a Folha acompanhou a operação do Ibama no frigorífico da JBS em Redenção (890 km ao sul de Belém). Na ação, sem incidentes, agentes do Ibama notificaram representantes da empresa sobre o embargo e inspecionaram o frigorífico.
A outra unidade da JBS autuada está em Santana do Araguaia (PA). Houve ações semelhantes em empresas sediadas em outros municípios.
Com o embargo administrativo, a JBS e outras empresas foram multadas e passam a ser obrigadas a provar ao Ibama que o gado a ser comprado não é de fazendas com área embargada. A medida é por tempo indeterminado, mas cabe recurso judicial.
“Os frigoríficos vão ter de correr atrás de mecanismos para garantir que nenhum animal abatido venha de áreas com embargo”, diz Lucivaldo Serrão, agente ambiental do Ibama, que coordenou a operação em Redenção.
Via assessoria, a JBS nega irregularidade e afirma que irá contestar da autuação do Ibama (leia abaixo).
A atividade pecuária é a que mais desmata na Amazônia: 65% da área já desflorestada até 2014 era pasto, segundo medição por satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). REMESSA INDIRETA Em uma das compras irregulares identificadas a partir de cruzamento de áreas embargadas com dados de GTA (Guia de Transporte Animal), o Ibama detectou a venda para a JBS de 17.138 cabeças da fazenda Vale Sereno, da Agro Santa Bárbara, que teria 10,8 mil de hectares embargados.
Essa área foi desmatada antes da aquisição pela Agro Santa Bárbara, mas isso não anula o embargo por desmate ilegal, segundo o Ibama. Técnicos do órgão comparam à venda de um carro, em que a transferência não apaga o histórico do veículo.
O Ibama detectou também que esse gado foi transferido da Vale Sereno para outra fazenda da mesma empresa, Café Paraíso, que não possui área embargada. De lá, foi vendido para frigoríficos, uma forma de maquiar a origem, segundo o Ibama.