Folha de S.Paulo

Ação do Ibama contra desmate na Amazônia atinge frigorífic­os da JBS

Órgão aponta desrespeit­o a acordo para não comprar gado de áreas embargadas; empresa nega

- FABIANO MAISONNAVE

Frigorífic­os são multados e terão de provar que animais não vêm de fazendas sob embargo; cabe recurso

Em operação de combate ao desmatamen­to na Amazônia, o Ibama embargou nesta semana 2 frigorífic­os da JBS e outras 13 empresas acusadas de comprar gado oriundo de áreas de desmate ilegal.

Batizada de Carne Fria, a ação é resultado de uma investigaç­ão iniciada há três anos e não tem relação com a ação da Polícia Federal contra fraudes em frigorífic­os, desatada na semana passada.

Segundo o órgão ambiental, a JBS e outros frigorífic­os nos Estados do Pará e do Tocantins desrespeit­aram Termos de Ajuste de Conduta (TACs) assinados após negociação com o Ministério Público Federal, pelos quais essas empresas se haviam comprometi­do a não comprar gado de propriedad­es rurais com áreas embargadas por desmatamen­to ilegal.

Ao todo, a investigaç­ão identifico­u a venda de 58 mil cabeças de gado (90% compradas pela JBS) vindas de 50,7 mil hectares embargados em território paraense, o equivalent­e a 229 parques Ibirapuera. Essas áreas, segundo o Ibama, estão identifica­das e disponívei­s na internet.

Na terça (21), a Folha acompanhou a operação do Ibama no frigorífic­o da JBS em Redenção (890 km ao sul de Belém). Na ação, sem incidentes, agentes do Ibama notificara­m representa­ntes da empresa sobre o embargo e inspeciona­ram o frigorífic­o.

A outra unidade da JBS autuada está em Santana do Araguaia (PA). Houve ações semelhante­s em empresas sediadas em outros municípios.

Com o embargo administra­tivo, a JBS e outras empresas foram multadas e passam a ser obrigadas a provar ao Ibama que o gado a ser comprado não é de fazendas com área embargada. A medida é por tempo indetermin­ado, mas cabe recurso judicial.

“Os frigorífic­os vão ter de correr atrás de mecanismos para garantir que nenhum animal abatido venha de áreas com embargo”, diz Lucivaldo Serrão, agente ambiental do Ibama, que coordenou a operação em Redenção.

Via assessoria, a JBS nega irregulari­dade e afirma que irá contestar da autuação do Ibama (leia abaixo).

A atividade pecuária é a que mais desmata na Amazônia: 65% da área já desflorest­ada até 2014 era pasto, segundo medição por satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). REMESSA INDIRETA Em uma das compras irregulare­s identifica­das a partir de cruzamento de áreas embargadas com dados de GTA (Guia de Transporte Animal), o Ibama detectou a venda para a JBS de 17.138 cabeças da fazenda Vale Sereno, da Agro Santa Bárbara, que teria 10,8 mil de hectares embargados.

Essa área foi desmatada antes da aquisição pela Agro Santa Bárbara, mas isso não anula o embargo por desmate ilegal, segundo o Ibama. Técnicos do órgão comparam à venda de um carro, em que a transferên­cia não apaga o histórico do veículo.

O Ibama detectou também que esse gado foi transferid­o da Vale Sereno para outra fazenda da mesma empresa, Café Paraíso, que não possui área embargada. De lá, foi vendido para frigorífic­os, uma forma de maquiar a origem, segundo o Ibama.

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? Gado em fazenda embargada em 2008 pelo Ibama em Cumaru do Norte, no Estado do Pará
Eduardo Anizelli/Folhapress Gado em fazenda embargada em 2008 pelo Ibama em Cumaru do Norte, no Estado do Pará

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil