Vacinação contra febre amarela será revista
Governos e técnicos discutem ampliar área de recomendação e incluir vacina no calendário nacional para crianças
Proposta prevê doses aos 9 meses e aos 4 anos no país todo; SP planeja mudanças para público infantil ainda em 2017
A expansão da febre amarela para novas áreas —como no Estado do Rio de Janeiro— reforçou a discussão sobre mudanças nas políticas de vacinação contra a doença.
Hoje, há dois pontos principais em análise, segundo especialistas, governos estaduais e técnicos do Ministério da Saúde ouvidos pela Folha.
O primeiro é a ampliação da área permanente de recomendação para a vacina, onde a proteção é indicada como rotina para a população e turistas devido ao risco de febre amarela silvestre.
Outra proposta é a inclusão da vacina no Calendário Nacional de Vacinação do país todo para crianças aos 9 meses, com a segunda dose aos 4 anos. Assim, seria garantida proteção por toda a vida.
Oficialmente, o Ministério da Saúde afirma que irá “revisar” a área de vacinação e as mudanças no calendário nacional “após a interrupção da transmissão da febre amarela nas áreas afetadas”.
Atualmente, a área permanente de recomendação é composta por 3.529 municípios, distribuídos em 19 Estados e no Distrito Federal.
Diante do surto deste ano, porém, outros 177 municípios do Rio, Espírito Santo, Bahia e São Paulo passaram a ter recomendação temporária de vacinação. Agora, a expectativa dos governos é que essas cidades sejam mantidas definitivamente na lista.
A medida ocorre tanto pela necessidade de aplicação de nova dose da vacina nos próximos anos para a população recém-imunizada quanto devido aos registros de circulação da doença.
“Temos epizootias [morte de primatas] em 52 municípios de um total de 78, sendo 21 já confirmados para febre amarela. Isso mostra que há um percentual muito grande do Estado com circulação viral”, diz a gerente de vigilância do ES, Gilsa Rodrigues.
Pelo calendário nacional atual, a vacina é ofertada para crianças aos 9 meses, com uma segunda dose aos 4 anos, apenas nas áreas dentro do mapa de risco para a febre amarela. A possibilidade de ampliação, porém, tem ganhado adesão de técnicos de fora e de dentro do Ministério da Saúde.
“Essa medida está sendo estudada e provavelmente será tomada. A vacina deve estar no calendário infantil de todas as crianças do Brasil, e não só na área com recomendação de vacina”, diz Pedro Tauil, epidemiologista da UnB (Universidade de Brasília). “Ao longo do tempo, teremos toda a população vacinada.”
Segundo Tauil, a vacinação universal para crianças seria eficaz devido às maiores taxas de cobertura vacinal neste grupo, que apresenta menores índices de efeitos adversos em comparação aos adultos.
Secretarias estaduais de Saúde confirmam a discussão, já levada ao ministério. “É um pleito nosso. Queremos que a vacinação entre na rotina para crianças, porque a população geral [no Esta- do] já estará vacinada”, diz Rodrigues, do Espírito Santo.
Em São Paulo, o governo do Estado estuda adotar a medida ainda neste ano.
“Estamos discutindo tornar a vacinação obrigatória para todas as crianças onde ainda não é. Esse esquema provavelmente deve entrar em vigor neste ano, assim que acalmar a epidemia”, afirma Marcos Boulos, gerente de controle de doenças de SP.
Já Isabela Ballalai, presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), avalia que é necessário maior debate. “Se vacinar a criança, ela cresce imunizada. Mas quem entra na mata é o adulto. É uma discussão difícil.”
Pelos dados do ministério, já foram confirmados 448 casos de febre amarela neste ano, com 144 mortes, no pior surto desde 1980. Há outros 850 casos em investigação.