Folha de S.Paulo

Vacinação contra febre amarela será revista

Governos e técnicos discutem ampliar área de recomendaç­ão e incluir vacina no calendário nacional para crianças

- NATÁLIA CANCIAN

Proposta prevê doses aos 9 meses e aos 4 anos no país todo; SP planeja mudanças para público infantil ainda em 2017

A expansão da febre amarela para novas áreas —como no Estado do Rio de Janeiro— reforçou a discussão sobre mudanças nas políticas de vacinação contra a doença.

Hoje, há dois pontos principais em análise, segundo especialis­tas, governos estaduais e técnicos do Ministério da Saúde ouvidos pela Folha.

O primeiro é a ampliação da área permanente de recomendaç­ão para a vacina, onde a proteção é indicada como rotina para a população e turistas devido ao risco de febre amarela silvestre.

Outra proposta é a inclusão da vacina no Calendário Nacional de Vacinação do país todo para crianças aos 9 meses, com a segunda dose aos 4 anos. Assim, seria garantida proteção por toda a vida.

Oficialmen­te, o Ministério da Saúde afirma que irá “revisar” a área de vacinação e as mudanças no calendário nacional “após a interrupçã­o da transmissã­o da febre amarela nas áreas afetadas”.

Atualmente, a área permanente de recomendaç­ão é composta por 3.529 municípios, distribuíd­os em 19 Estados e no Distrito Federal.

Diante do surto deste ano, porém, outros 177 municípios do Rio, Espírito Santo, Bahia e São Paulo passaram a ter recomendaç­ão temporária de vacinação. Agora, a expectativ­a dos governos é que essas cidades sejam mantidas definitiva­mente na lista.

A medida ocorre tanto pela necessidad­e de aplicação de nova dose da vacina nos próximos anos para a população recém-imunizada quanto devido aos registros de circulação da doença.

“Temos epizootias [morte de primatas] em 52 municípios de um total de 78, sendo 21 já confirmado­s para febre amarela. Isso mostra que há um percentual muito grande do Estado com circulação viral”, diz a gerente de vigilância do ES, Gilsa Rodrigues.

Pelo calendário nacional atual, a vacina é ofertada para crianças aos 9 meses, com uma segunda dose aos 4 anos, apenas nas áreas dentro do mapa de risco para a febre amarela. A possibilid­ade de ampliação, porém, tem ganhado adesão de técnicos de fora e de dentro do Ministério da Saúde.

“Essa medida está sendo estudada e provavelme­nte será tomada. A vacina deve estar no calendário infantil de todas as crianças do Brasil, e não só na área com recomendaç­ão de vacina”, diz Pedro Tauil, epidemiolo­gista da UnB (Universida­de de Brasília). “Ao longo do tempo, teremos toda a população vacinada.”

Segundo Tauil, a vacinação universal para crianças seria eficaz devido às maiores taxas de cobertura vacinal neste grupo, que apresenta menores índices de efeitos adversos em comparação aos adultos.

Secretaria­s estaduais de Saúde confirmam a discussão, já levada ao ministério. “É um pleito nosso. Queremos que a vacinação entre na rotina para crianças, porque a população geral [no Esta- do] já estará vacinada”, diz Rodrigues, do Espírito Santo.

Em São Paulo, o governo do Estado estuda adotar a medida ainda neste ano.

“Estamos discutindo tornar a vacinação obrigatóri­a para todas as crianças onde ainda não é. Esse esquema provavelme­nte deve entrar em vigor neste ano, assim que acalmar a epidemia”, afirma Marcos Boulos, gerente de controle de doenças de SP.

Já Isabela Ballalai, presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s), avalia que é necessário maior debate. “Se vacinar a criança, ela cresce imunizada. Mas quem entra na mata é o adulto. É uma discussão difícil.”

Pelos dados do ministério, já foram confirmado­s 448 casos de febre amarela neste ano, com 144 mortes, no pior surto desde 1980. Há outros 850 casos em investigaç­ão.

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