Folha de S.Paulo

Vacina requer cautela por efeitos adversos graves, diz entidade

Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s reforça risco de vacinar pessoas que se enquadram em contraindi­cação

- Área com recomendaç­ão permanente de vacinação Área com recomendaç­ão temporária de vacinação Área sem recomendaç­ão de vacinação Estados com casos e mortes notificado­s

Existem restrições para idosos, gestantes e imunodepri­midos, como portadores de HIV ou quem faz quimio

Ao mesmo tempo em que o debate sobre mudanças na política de vacinação contra febre amarela tem ganhado força, especialis­tas alertam sobre a necessidad­e de avaliar os riscos de efeitos adversos.

É o caso das discussões sobre a ampliação da vacinação para adultos —seja em todo o país ou com a inclusão de novas áreas onde atualmente a vacina não é indicada.

Para Isabela Ballalai, presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s), o debate deve ser feito com cautela, para evitar que a vacina seja dada a pessoas com contraindi­cação ou necessidad­e de prévia avaliação médica.

Isso valeria para idosos, gestantes e pessoas imunodepri­midas (como portadores de HIV e pacientes que passam por quimiotera­pia).

“O motivo para o Brasil não vacinar de forma universal é por existir risco, mesmo baixo, de efeitos adversos graves”, diz Ballalai. “Se a pessoa não tem risco da doença, não faz sentido colocá-la.”

Apesar do alerta, a possibilid­ade de ampliar a vacinação tem sido defendida por especialis­tas diante do surto de febre amarela deste ano, o pior já registrado desde 1980.

Ao menos dois Estados afetados, Rio e Espírito Santo, estavam fora da área de recomendaç­ão da vacina no país.

Já em Minas Gerais, que concentra a maior parte dos casos, a vacina já era ofertada, mas havia baixa cobertura até então, com apenas 49% da população imunizada.

Para Maurício Nogueira, da Sociedade Brasileira de Virologia, a ampliação é necessária para evitar novos surtos.

“Excluído o Nordeste, onde não há condição propícia para febre amarela silvestre, o restante tem que vacinar”, diz ele, que defende busca ativa de adultos não vacinados.

O epidemiolo­gista Pedro Tauil, da UnB, diz que uma possível ampliação do mapa de vacinação do país deve ser analisada com ressalvas. “Provavelme­nte o bom senso mostra, como no interior de São Paulo, que há áreas com e sem recomendaç­ão de vacina. Não vai ter tanta vacina para a população total.”

Na última semana, o governo do Rio anunciou que, para conter o surto, pretende vacinar toda a população contra a doença até o fim deste ano.

“É preocupant­e. Quando faz como se fosse uma batalha, e a população fica exaltada, você começa a vacinar pessoas imunodepri­midas [com contraindi­cação]. Quando ocorreu isso em Botucatu, anos atrás, um em cada 200 mil idosos morreram pela vacina”, afirma Marcos Boulos, coordenado­r de controle de doenças de São Paulo. (NATÁLIA CANCIAN) > Somente em situação de emergência epidemioló­gica ou viagem para área de risco > Uma dose aos 9 meses e uma dose de reforço aos 4 anos A FEBRE AMARELA NO PAÍS > Está imunizado e não precisa mais se vacinar > Casos* e mortes suspeitos e confirmado­s de febre amarela, por Estado > Deve tomar o reforço ainda que seja adulto > Tomar uma dose da vacina e outra dose de reforço após dez anos > Apenas após avaliação médica

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