Folha de S.Paulo

Sem armadilha para turistas, comer bem e pagar pouco é regra

Em Lisboa, viajante não precisa pesquisar muito para encontrar casas com pratos tradiciona­is e preço justo

- JOSIMAR MELO

Uma refeição no restaurant­e de um chef estrelado, que serve receitas autorais, custa cerca de € 35 FOLHA

Portugal é um daqueles raros países do Ocidente onde comer em restaurant­es não traz grandes perigos para o paladar nem para o bolso.

Um lugar onde, ao se caminhar pela rua e entrar ao acaso numa tasca quando a fome começa a bater, as chances de se comer bem e barato são grandes.

Nem sempre é assim. Não falo nem de Londres ou Nova York, onde entrar no primeiro restaurant­e pela frente, sem nenhuma indicação de guias ou amigos, é praticamen­te um suicídio.

Falo, por exemplo, de Paris —onde, se você tiver as indicações certas, comerá como em poucos lugares do planeta, mas, se entrar ao acaso no primeiro bistrô, poderá estar caindo numa das milhares de armadilhas para turistas montadas numa cidade onde o turismo é tão intenso que virou uma fonte inesgotáve­l de estrangeir­os incautos prestes a cair na rede.

Já em Lisboa, a regra é comer bem. E barato, para os padrões da Europa e até mesmo do Brasil. Você entra numa tasca e pede o prato do dia, que pode ser uma simples sopa de mariscos —possivelme­nte feita com frutos do mar de qualidade (produtos nobres e caros), e a preços de... prato do dia.

Até mesmo aqueles restaurant­es mais sofisticad­os têm preços razoáveis. Aí se incluem alguns que hoje têm apelo até turístico, mas continuam deliciosos. PONTO TURÍSTICO O Solar dos Nunes tem paredes recheadas de fotos de visitantes do Brasil. Seus pratos típicos e generosos podem fartar o cliente, da entrada à sobremesa, por algo como € 35 (R$ 115) ou até menos — vinho incluído. Há receitas tradiciona­is, principalm­ente alentejana­s, mas não só isso: o menu também inclui caldo de robalo com poejos, bacalhau à lagareiro e perdiz frita à moda de Serpa.

Nessa mesma faixa dá para encontrar casas de chefs estrelados.

É o caso do Cantinho do Avillez, do chef José Avillez (claro, o restaurant­e principal dele, o Belcanto, com duas estrelas Michelin, custa mais), onde se encontra uma versão mais simplifica­da de sua cozinha autoral (farinheira com broa de milho, bacalhau com migas soltas e ovo); ou do Tasca da Esquina, do chef Vitor Sobral, que tem no cardápio pratos tradiciona­is modernizad­os, como moelas com cebolinha em vinagre, raia confitada em azeite e bacalhau à Brás. ATÉ FRUTOS DO MAR O preço parece alto? Tente então o Ramiro, que é especializ­ado em frutos do mar (produto normalment­e caro), mas ali, comendo ameijoas à Bulhões Pato, camarões, sapateira (caranguejo grande) e outras delícias, num ambiente simples e concorridí­ssimo, a refeição (sempre com vinhos) sairia mais ou menos € 25 (R$ 82). Em termos de Europa, é de graça.

Quer comer incríveis empadas (de galinha com chouriço, de codornas, de camarão, de coelho) ou alguns pratos simples? Na Bel’Empada a refeição toda sairá por cerca de € 15 (R$ 49).

Isso porque eu só estou falando de cozinha portuguesa. Quem mora por lá e quer variar de vez em quando terá também boas opções muito em conta com vários outros sotaques, das cantinas e pizzarias italianas até as mesas asiáticas. Mas não é bem isso que nós brasileiro­s buscamos quando vamos à terrinha, certo?

 ?? Stuart Forster/Alamy/Latinstock ?? Restaurant­e Solar dos Nunes, que serve pratos da cozinha alentejana, em Lisboa
Stuart Forster/Alamy/Latinstock Restaurant­e Solar dos Nunes, que serve pratos da cozinha alentejana, em Lisboa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil