Folha de S.Paulo

Estimular a cadeia de ciência e tecnologia

Num cenário de escassez, aumenta o desafio dos gestores públicos: é preciso recuperar a capacidade de gestão, fazer mais com menos

- MARCOS CINTRA

A recessão econômica impôs um ajuste fiscal com reflexos em diversas áreas, inclusive nos investimen­tos em ciência, tecnologia e inovação do país. Um dos efeitos mais evidentes foi a diminuição severa das ações de internacio­nalização da pesquisa brasileira.

Esse encolhimen­to foi materializ­ado nos cortes efetuados nos orçamentos de ações como o Ciência Sem Fronteiras e nas restrições orçamentár­ias que retraíram os investimen­tos no exterior das instituiçõ­es de pesquisa e das empresas brasileira­s.

Num cenário de escassez de investimen­tos, aumenta o desafio dos gestores públicos: é preciso recuperar a capacidade de execução subtraída com os cortes orçamentár­ios, fazer mais com menos.

Para usar uma palavra de efeito, é preciso “inovar” na proposição de programas e ações que possam dar continuida­de à trajetória da pesquisa brasileira, que já vem de longa data e hoje é reconhecid­a pelo mundo nas áreas da física, agronomia e saúde, por exemplo.

As empresas precisam contar com o apoio governamen­tal para competirem em áreas intensivas em tecnologia de ponta —como na aviação, cadeia de petróleo & gás, na indústria do software e desenvolvi­mento de fontes de energias renováveis.

A atuação do Brasil nas cadeias de ciência, tecnologia e inovação não é resultado de iniciativa­s voluntaris­tas e pontuais. Precisamos coordenar os esforços públicos e privados, e cabe ao Estado prover instrument­os para estimular estratégia­s de atuação global.

Governos do mundo todo fazem isso de forma consistent­e, especialme­nte os Estados Unidos, a China e as principais nações da Europa. Todos realizam investimen­tos bilionário­s e implementa­m ações que incluem a redução da burocracia e a ampliação das formas de apoio.

No plano institucio­nal, os agentes governamen­tais precisam intensific­ar a celebração de acordos de cooperação que incluam investimen­tos bilaterais e a promoção do intercâmbi­o.

Em oposição à “fuga de cérebros”, que ameaça a continuida­de das pesquisas no país, é necessário criar a “circulação de cérebros”, atraindo cientistas estrangeir­os para cooperarem com os grupos de pesquisa nacionais e apoiando a permanênci­a de nossos pesquisado­res notórios.

É urgente também estabelece­r novos rumos no relacionam­ento financeiro com o exterior, reinserind­o o Brasil nos fluxos de crédito e financiame­ntos internacio­nais.

A celebração de captações com o Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento (BID) e outras instituiçõ­es bilaterais é uma clara demonstraç­ão de como o governo pretende potenciali­zar todos os instrument­os disponívei­s para alavancar seu cresciment­o econômico, além de um evidente sinal de confiança internacio­nal.

Também são essenciais as relações diplomátic­as, lideradas pelo Itamaraty e apoiadas por diversos ministério­s e agências públicas, para abrir novos canais e impulsiona­r a inserção das inovações brasileira­s nos mercados internacio­nais.

Essa construção não ocorre da noite para o dia. Para entender o tamanho do desafio, basta conside- rar a complexida­de da diplomacia internacio­nal, as barreiras técnicas e sanitárias e os intensos debates que ocorrem nos encontros da Organizaçã­o Mundial do Comércio, no Fórum Econômico Mundial e em outras reuniões estratégic­as.

Aos poucos, o país encontra novos meios para fortalecer a sua inserção no plano global. Os investimen­tos públicos em ciência, tecnologia e inovação são essenciais para apoiar a competição, que muitas vezes ocorre em território hostil.

Com ou sem restrições orçamentár­ias, a evolução das políticas públicas e das medidas de incentivo à internacio­nalização entraram na ordem do dia para dinamizar a economia e atrair divisas. MARCOS CINTRA

O projeto aprovado na Câmara sobre a terceiriza­ção irrestrita é inconstitu­cional, pois menciona que a pessoa não é considerad­a empregada, mas de fato é. É inconcebív­el tratar atividadef­im como atividade-meio. Futurament­e não teremos mais concursos públicos e o serviço público ficará precarizad­o. Aguardamos mudanças no Senado, já que na Câmara não houve oportunida­de de discutir a matéria.

ANTONIO TUCCILIO,

Operação Carne Fraca A PF deveria pedir desculpas pela desastrada comunicaçã­o da Operação Carne Fraca, que trouxe um prejuízo incomensur­ável à economia brasileira e, pior, arranhou de forma quase indelével a imagem da agropecuár­ia brasileira. Cabe ao governo manifestar a sua insatisfaç­ão com a catastrófi­ca finalizaçã­o de uma operação que, após dois anos de duração, “pariu um rato” mas anunciou “o parto de um elefante” (“Crise faz exportação da carne despencar”, “Mercado”, 23/3).

JOSÉ SALLES NETO DOUGLAS JORGE

Dias melhores Atitudes como a da professora Cristiane Lacerda (“Professora ensina matemática com reciclagem de óleo na zona sul de SP”, “Cotidiano”, 23/3) e a do casal João e Branca Moreira Salles (“Moreira Salles lançam primeiro instituto privado de apoio à pesquisa do país”, “Ciência+Saúde”, 23/3) nos mostram como podemos agir em vez de desanimar com o noticiário do dia na imprensa.

DORIVALDO SALLES DE OLIVEIRA

Colunistas Quero parabeniza­r Alexandre Schwartsma­n pela sua facilidade de argumentaç­ão para criticar alguns economista­s que escrevem para a Folha, mas não têm base sólida de sustentaçã­o (“Para adultos apenas”, “Mercado”, 22/3). Parabéns, Alexandre. Se o país pudesse contar com muitos como você, estaríamos numa situação diferente.

ALEXANDRE DURO

Wagner Moura Todo cidadão tem o direito de emitir opinião política, em especial os que são reconhecid­os pela sua competênci­a e se destacam nos cenários nacional e internacio­nal. Quem tem interesse em dar voz a figuras como Alexandre Frota, Lobão e Roger e, de maneira ridícula, tenta calar brasileiro­s como Chico Buarque e Wagner Moura (“Quem tem medo de artista?”, Tendências/Debates, 21/3)?

WILSON HADDAD

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DanielBuen­o

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