Folha de S.Paulo

2018 já era. Salvem 2022!

- REINALDO AZEVEDO COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

O PAÍS terá de passar, no curso de seis meses, por uma reforma política com vistas às eleições de 2018. Tal mudança pode ser, nessa perspectiv­a, restrita, respondend­o apenas a aflições que dizem respeito ao próximo pleito, ou pode ser mais ampla, com um desenho que já contemple o futuro.

Isso ficou claro no seminário internacio­nal promovido nesta semana por Gilmar Mendes, presidente do TSE e ministro do Supremo, sobre sistemas eleitorais. Houvesse movimentos no país que não fossem ou escravos da esquerda ou meros caudatário­s do rancor primitivo e ignorante de classes, eis o debate da hora. Em vez disso, o ódio à política — e, portanto, à solução negociada de divergênci­as — faz seu alarido. Bem, já escrevi aqui, há apenas dois “pês” para tratar dos conflitos distributi­vos e de direitos: política e porrada.

Gente que nunca sujou o shortinho de vida real, nos dois extremos do espectro ideológico, defende a porrada. Aos 55 anos, já tomei borrachada o bastante para escolher a política. Aceitar a educação “pela pedra” implica repudiar a “pela pedrada”. Os que transforma­m, de fato, a realidade seguem o caminho da reforma, nunca o da ruptura. Inexiste, a não ser no universo das metáforas, revolução benigna.

Sim, já dá para saber o que não vai acontecer em 2018. Não haverá a volta do financiame­nto de campanha por empresas privadas. Quem poria a sua assinatura numa emenda com tal conteúdo? Mais: por 8 a 3, numa interpreta­ção conforme a Constituiç­ão, ainda que absurda!, o STF declarou inconstitu­cional esse tipo de doação. Mesmo que uma emenda o reabilitas­se, a questão voltaria ao tribunal. Apostar nisso seria escolher a inseguranç­a jurídica.

Assim, há três possibilid­ades para financiar o pleito do ano que vem. A primeira é deixar a lei como está, e os grandes eleitores do Brasil serão o PCC, o Comando Vermelho, a Família do Norte e afins. Pode-se optar, e parece ser a melhor escolha, pelo financiame­nto público exclusivo. A alternativ­a “C” junta à verba pública as contribuiç­ões de indivíduos e de empresas.

Se nada mudar, a melhor saída continua a ser Cumbica. Caso se crie um fundo, público ou misto, para 2018, a escolha sensata é o voto em lista. Ou será que o TSE iria distribuir a cota de recursos a cada partido (com qual critério?), e os candidatos seguiriam livres para usar a sua parte como lhes desse na veneta? Seria o paraíso do caixa dois. NOTA: combato sistematic­amente financiame­nto público e voto em lista há 12 anos. Ocorre que a saída única é sempre a melhor e a pior. A Lava Jato deixou alternativ­a? “E por que, então, em vez do voto em lista, não se opta pelo distrital ou pelo distrital misto já em 2018?” Não há tempo!

O voto em lista e o fundo público para 2018 podem ser instituído­s por projeto de lei. Para aprová-los, basta maioria simples na Câmara e no Senado. Já o voto distrital e distrital misto requerem uma Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC). O Artigo 45 da Carta prevê o sistema proporcion­al. Nesse caso, são necessária­s duas votações em cada Casa e a concordânc­ia de 60% de deputados (308) e senadores (49).

Que o Congresso seja ousado! Que enfrente as vanguardas oportunist­as do “não”, barulhenta­s e minoritári­as, e acene para o futuro. E a melhor forma de fazê-lo é, então, votar, no curso da reforma, uma PEC que restabeleç­a, para as eleições de 2022, o financiame­nto de empresas (na forma da lei) e o voto distrital ou distrital misto. E o país terá três anos para criar uma nova legislação de financiame­nto e instituir os distritos.

O passo seguinte, por óbvio, é o parlamenta­rismo.

Caso se crie um fundo, público ou misto, para 2018, a escolha sensata é o voto em lista

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