Folha de S.Paulo

Odebrecht diz ter pago R$ 13 mi a conselheir­o

Segundo delator, repasse foi contrapart­ida a investimen­to de R$ 1,3 bi que o FI-FGTS fez em empresa do grupo

- WÁLTER NUNES

Em 2013, Eduardo Cunha cobrou R$ 4 milhões para facilitar outro aporte de R$ 429 milhões do fundo

O ex-presidente da Odebrecht Infraestru­tura Benedicto Junior, conhecido como BJ, disse, em sua delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, que às vésperas da eleição de 2010 a empresa negociou pagamento de R$ 13,5 milhões para um conselheir­o do Fundo de Investimen­to do FGTS (FIFGTS) para ele facilitar um negócio bilionário com a companhia baiana.

O dinheiro pago seria contrapart­ida de 1% à aprovação de um aporte de R$ 1,3 bilhão do FI-FGTS para adquirir 30% da Odebrecht Transport Participaç­ões, empresa recémcriad­a pelo grupo.

O FI-FGTS foi criado em 2007 para investir dinheiro do fundo do trabalhado­r nas obras de infraestru­tura do PAC (Programa de Aceleração do Cresciment­o).

Segundo a delação, a negociação foi feita entre o então presidente da Odebrecht Transport, Geraldo Villin, e André Luiz de Souza, indicado pela CUT (Central Única dos Trabalhado­res) para fazer parte do grupo de apoio permanente que assessora o conselho e o comitê de investimen­to do FI-FGTS.

A Caixa Econômica Federal era responsáve­l pela gestão do FI-FGTS.

Após o suposto pagamento de R$ 13,5 milhões, o negócio saiu.

Conforme a Folha revelou, Souza aparece também na de- lação de Fernando Reis, expresiden­te da Odebrecht Ambiental.

Reis disse que, em 2009, Souza recebeu R$ 8 milhões, depositado­s na Suíça, a título de “consultori­a” para ajudar que o FI-FGTS comprasse 25% da Odebrecht Ambiental por R$ 650 milhões. EDUARDO CUNHA Três anos depois do acerto entre a Odebrecht Transport e o fundo de investimen­to do FGTS teria havido outra negociação para um novo aporte na empresa.

Nas delações de BJ e de Paulo Cesena, que substituiu Villin na presidênci­a da Odebrecht Transport, aparece a história de uma combinação para que o FI-FGTS investisse o valor de R$ 429 milhões no braço de transporte­s do grupo baiano.

Segundo os delatores, o fundo pretendia capitaliza­r a Odebrecht Transport em resposta a uma investida do BNDES, que também havia colocado dinheiro na empresa.

Dessa vez quem teria prometido facilitar as coisas para a liberação de dinheiro do FI-FGTS foi o ex-deputado federal Eduardo Cunha.

Segundo os executivos da Odebrecht, Cunha cobrou propina de 1% do valor da operação.

O ex-deputado teria justificad­o o valor do suposto suborno de R$ 4 milhões dizendo que teria que repassar dinheiro a Fábio Cleto, na ocasião vice-presidente de Loterias da Caixa, e para 3 conselheir­os do FI-FGTS.

Teria nomeado como recebedore­s do repasse os conselheir­os João Graça, ligado ao PDT, Luiz Fernando Emediato, ligado à Força Sindical, e uma pessoa ligada ao PT, não identifica­da por Cunha.

Após o pagamento do suposto suborno, o aporte de R$ 429 milhões foi liberado. FAVOR Cleto é delator em processo que investiga desvios na Caixa Econômica Federal. Ele menciona o episódio na sua delação.

Diz que foi procurado por Cunha, em 2013, para que se posicionas­se favoravelm­ente ao aporte de R$ 429 milhões na Odebrecht Transport.

Cunha disse na ocasião que aquele caso específico era um favor e não envolvia pagamento de propina.

Cleto afirma na delação ter desconfiad­o que Cunha estava mentindo para ficar com o dinheiro todo para ele. Mesmo sem receber dinheiro por isso, Cleto apoiou o aporte.

João Graça e Fernando Emediato disseram que não participar­am de nenhum acordo e não receberam qualquer quantia.

Acusam Cunha de ter mentido para receber em nome dos conselheir­os.

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