Folha de S.Paulo

Projeto não resolve inseguranç­a jurídica, afirmam advogados

Para eles, proposta aprovada pelos deputados é genérica e abre espaço para contestaçõ­es na Justiça

- FERNANDA PERRIN DANIELLE BRANT

Se sancionado, texto vai mudar foco da atuação do Ministério Público, que deve passar a recair sobre terceiriza­das

O projeto de lei que regulament­a a terceiriza­ção aprovado na Câmara dos Deputados na quarta-feira (22) não resolve o problema de inseguranç­a jurídica que existe atualmente, segundo especialis­tas ouvidos pela Folha.

Hoje, a terceiriza­ção é liberada para atividades-meio e não para as atividades-fim. A distinção entre os conceitos, porém, dá brecha para questionam­entos na Justiça.

O projeto de lei tenta resolver o problema, mas cria outro, na visão de advogados. Isso porque o texto fala que “serviços determinad­os e específico­s” podem ser terceiriza­dos. A expressão, contudo, é considerad­a genérica.

“No fundo, trocamos um problema pelo outro. Vai dar margem a novos questionam­entos”, disse o professor de direito trabalhist­a da USP Estêvão Mallet.

“Você vai de novo deixar na mão do Judiciário decidir o que seria específico e determinad­o”, afirmou a advogada Daniela Yuassa, do escritório Stocche Forbes.

O texto, que aguarda sanção do presidente Michel Temer, também deve colocar maior fiscalizaç­ão sobre as empresas prestadora­s de serviços (as terceiriza­das contratada­s pelas empresas para fornecer mão de obra).

Hoje, o alvo da atuação do Ministério Público na fiscalizaç­ão de irregulari­dades na terceiriza­ção de atividades­fim são as empresas contratant­es das terceiriza­das.

Se confirmada a mudança, o foco passa a ser a fiscalizaç­ão das condições de trabalho nas empresas terceiriza­das. “O Ministério Público do Trabalho vai contrapor as

DANIELA YUASSA

advogada do escritório Stocche Forbes condições do empregado do tomador de serviço e do terceiriza­do, e aí ele vai para cima do prestador”, diz Yuassa.

A empresa que contrata a terceiriza­da, contudo, ainda pode ser acionada na Justiça pelo trabalhado­r caso direcione o trabalho do terceiriza­do, por exemplo controland­o seus horários ou alocando para outra função.

“Não vai eliminar a possibilid­ade de o terceiriza­do ser reconhecid­o como empregado da empresa que contrata a prestadora de serviços. Quem tem que gerir o trabalho é a prestadora, e não a contratant­e. Não vai diminuir a judicializ­ação”, diz Carla Romar, professora da PUC-SP.

A preocupaçã­o em não caracteriz­ar um vínculo de subordinaç­ão deve impedir uma terceiriza­ção generaliza­da das funções, na visão dos especialis­tas. “Cargos de gestão, por exemplo, jamais serão terceiriza­dos, na minha opinião, assim como cargos de confiança e estratégic­os”, diz Williane Ibiapina, sócia do escritório Siqueira Castro.

Já para José Wahle, sócio do Veirano Advogados, o projeto não é ideal, mas é melhor do que não ter lei. “Agora o Judiciário vai ficar ocupado preenchend­o as lacunas.”

“novo deixar na mão do Judiciário decidir o que seriam serviços determinad­os e específico­s

 ?? Reprodução Instagram/CNIbr ?? O deputado Laércio Oliveira (SD-SE), relator do projeto de terceiriza­ção, em debate da CNI
Reprodução Instagram/CNIbr O deputado Laércio Oliveira (SD-SE), relator do projeto de terceiriza­ção, em debate da CNI

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